quinta-feira, 19 de julho de 2012

MERCANDANTE, VAMOS LEVAR EDUCAÇÃO A SÉRIO?

Pensando eu, individualmente na vida dos professores das universidades federais, dou razão aos pleitos de aumento de seus salários.  Não concordo, porém, pela forma como os fazem.  É uma constante, os alunos das universidades federais, sobretudo os formandos, perderem oportunidade de empregos por não conclusão do curso em tempo hábil.


Pode ter razão suas revindicações de plano de carreira e dos pisos salariais pleiteados.  Pode ter razão também, em parte, o ponto de vista primário, do ministro da Educação Aloisio Mercadante em oferecer aumento para os mais,  teoricamente, capacitados, com tempo integral.  Mas o problema das universidades não se circunscreve no terreno das remunerações e nem no plano de carreiras.


O que falta nas nossas universidades, sobretudo as federais, é a gestão administrativa e a capacidade de inserção dos graduandos ao mercado de trabalho.  Os alunos das universidades saem das instituições de ensino apenas com o diploma.  As universidades despejam os formandos ao mercado, sem nenhuma capacitação para exercerem as funções que o mercado de trabalho exige.  Isto é realidade que todos conhecem, mas todos se calam, simplesmente.  Mexer com as universidades? Quem ousaria?


Via de regra, as nossas universidades, não mantém as instalações prediais em condições adequadas.  Tem reboco caindo, pinturas que foram feitas há décadas, faltando peças sanitárias, faltando papel higiênico, goteiras por toda parte, vidros quebrados.  Enfim, pelas mazelas das próprias manutenções prediais, dá para avaliar o que se passa no resto.


Os laboratórios.  Que laboratórios?  Os que ainda tem, utilizam-se dos equipamentos e material de laboratório de ante-penúltima geração.  Usam-se tubos de ensaios aqui enquanto nas universidades americanas utilizam-se computadores de última geração.  Com tubos de ensaio, permitem apenas fazer pesquisas científicas de base, dos tempos primórdios, das idades "neolíticas".  Querem ensinar o que?  Pegar sapinho e dissecá-lo é o máximo que se pode fazer.


Títulos.  Bem disse o ministro Mercadantes, os professores tem que ter os títulos.  Títulos de pós-graduação e de doutorado.  Como se obtém, títulos, se não temos laboratórios de última geração?  Só mesmo defesa de coisas teóricas, do tempo do dinossauro.  Os cursos de pós-graduação e de doutorados, nessas universidades, terminam em "monografias" e defesa de "teses".  Sem condições, os alunos, vão mesmo é fazer compilações de alguma teoria já defendidas pelos cientistas americanos ou alemãs.  A bibliografia faz parte da monografia.  Hoje, estas pesquisas são muito facilitados com o advento dos sites de buscas como o Google.  Dói falar isto, mas é pura verdade.  


Falo tudo isto, sem constrangimento, em defesa da própria instituições de ensino, por que já fiz parte do corpo docente de uma Universidade Federal.  Em 45 anos de formado, o quadro permanece o mesmo de antes, para o meu espanto e tristeza.


Falam muito em investimento em 10% do PIB para educação. Com a estrutura que temos, pode gastar 20% que é como dinheiro que vai para o ralo.  O problema, sem dúvida, tem um componente que é a verba, mas não é o único componente.  As melhores universidades americanas, aquelas que aparecem no topo das melhores do mundo, gastam "custo aluno per capita" muito menos que as nossas. Mas, muito menor mesmos!  Tem algo de errado, tem concepção errada, com certeza. O Brasil nunca ganhou um prêmio Nobel, em qualquer campo científico ou literário.  Os americanos são os campeões, com o custo de formação acadêmica per capita menor.


Fala-se muito, também, em inovação tecnológica.  Inovação tecnológica no Brasil, somente com importação de equipamentos produzidos nos EEUU, Alemanha, Japão e Coreia do Sul.  Fala-se muito, também, em transferência de tecnologia.  Vai transferir para quem?  Temos profissionais capacitados, em números, para absorver as inovações?  É tão dinâmica a evolução da ciência do mundo que, fatalmente, poderá acontecer como o caso Foxconn, importar tecnologia que ontem era última geração, mas hoje já é penúltima.


Desafio que tenha alguém do meio acadêmico que discorde do meu ponto de vista.  Se discorda, é porque está em tempo de pedir a aposentadoria.  Brasil tem que acordar para o campo da educação, como todo, com muita seriedade.  


Ossami Sakamori, 67, engenheiro civil, foi prof. da UFPR
Twitter: @sakamori10

3 comentários:

Anônimo disse...

As condições das universidades federais brasileiras são estas mesmas, ouvi relatos por meio do meu filho, que está fazendo engenharia mecânica na UFMG, sétimo período, que coadunam com os seus comentários, Saka. A minha indignação maior já é mais a nível do despreparo dos alunos do ensino fundamental e médio onde formam-se alunos que não têm outro destino que irem para universidades particulares. O nível de despreparo é tal, que formam-se profissionais de tal ordem que estes mal sabem escrever, e formam por que ele pagam, têm ajuda (?) do governo que lhes empurram bolsas, cotas, toda uma vasta gama de facilidades só para dizer que estão investindo em educação. É mentira. Imagine se uma uma Universidade Católica não passa um aluno despreparado; claro que passa, a mensalidade quem faz engenharia, por exemplo, hoje já deve chegar à casa dos 2 ou 3 mil reais/mês, e como eles vão poder preencher todas as vagas que são exigidas ano/ano. Há um interesse financeiro muito grande. Se uma Católica faz isso, imagine as outras universidades particulares. Aí ensino e interesse financeiro misturam-se de tal ordem, mas é óbvio que o interesse financeiro prevalece. Quando a educação de nível fundamental e médio é precária, isso se reflete no ensino universitário. Sem uma boa base, a casa desmorona, e você sabe disso tão bem, que eu nem preciso comentar. Se um bom ensino fundamental e médio já dá condições para o aluno sobreviver, imagine se este aluno cursar um nível superior! É isso, Saka! É na falta de educação de qualidade que está a raiz de todos os nossos males. Todo mundo atribui ao fato de termos sido uma colônia cujo objetivo dos portugueses eram só explorar as riquezas do nosso solo, nada de cultura, e é verdade, mas vamos viver o resto de nossas vidas vivendo na base da desculpa se temos meios de eliminarmos os fatos históricos, transcendê-los, enfim, simplesmente dando educação de base de boa qualidade? Bom dia, Saka! Vamos lutar a boa luta. Tudo de bom para você e os seus.

Wanderley J. Ferreira Jr. disse...

Estamos contra a lógica mercadológica, dirigida pela racionalidade instrumental tecnico-científico e que domina hoje todas as esferas da existencia humana. Universidade melhores rankiadas no mundo não passam de agência de serviço do capital que adestra e prepara mão de obra...Não aceitamos uma universidade que tem como modelo de gestão a empresa e como condição as leis de mercado. Queremos mais que adestrar maão de obra, queremos formar homens criticos capaz de colocar em questão esse modelo de civilização técnico científica e seus paradigmas.

Amilcar Faria disse...

Estive pensando sobre o problema da EDUCAÇÃO no mundo e resolvi mudá-la para melhor!

Mas o mundo é tão grande, por onde começar? Já sei, pelo meu país. Mas meu país é tão vasto...

Então vou começar pelo meu Estado. Mas ele também é enorme...

Pela minha cidade então, não pelo meu bairro, melhor pela escola mais próxima...!

Enquanto assim eu pensava comigo mesmo vi um garoto pegando o papel de picolé que eu tinha acabado de jogar no chão e colocá-lo no lixo.

Só então eu percebi: para mudar a EDUCAÇÃO no mundo para melhor, eu tinha que começar por mim, não pela escola mais próxima!

"Os filhos tornam-se para os pais, segundo a educação que recebem, uma recompensa ou um castigo."(J.Petit-Senn)

"A educação de um povo pode ser julgada, antes de mais nada, pelo comportamento que ele mostra na rua. Onde encontrares falta de educação nas ruas, encontrarás o mesmo nas casas." (Edmond Amicis)

http://amilcarfaria.blogspot.com.br/