O Complexo da Maré conta com 15 favelas e compõe de 130 mil moradores. O complexo como é denominado era dominado por duas "facções criminosas", traficantes de drogas e uma "milícia" armada. Para quem não tem familiaridade com o termo, a milícia armada é composta pelos integrantes dos policiais militares da ativa e policiais reformados que atuam informalmente na exploração de comércio clandestino de todo tipo de serviços.
O conjunto de favelas é delimitado pela Avenida Brasil, entrada da Rodovia Dutra à cidade de Rio Janeiro, por um lado e por outro lado a Linha Vermelha que liga o Aeroporto Tom Jobim (Galeão) ao centro da cidade de Rio de Janeiro. O conjunto, ainda é cortado por Linha Amarela que liga Ilha do Fundão, onde se localiza a UFRJ, à zona oeste da cidade. A descrição geográfica foi feita, exatamente, para mostrar a importância e o tamanho do Complexo da Maré.
Pois, este complexo que, geograficamente, faz parte integrante da cidade do Rio de Janeiro, funciona como verdadeiro "enclave" dentro da própria cidade, sem a presença efetiva do poder público. É como uma "cité du soleil" do Haiti, um enclave no país do Caribe, localizado dentro do próprio território brasileiro. Para quem não sabe, a "cité du soleil" é tutelada pelo Exército brasileiro à serviço das Nações Unidas (à época da matéria).
Para confirmar a minha afirmação de que o complexo é um "enclave" dentro da cidade de Rio de Janeiro, basta ver que, com a "tomada" do Complexo, simbolicamente, foi hasteamento a bandeira brasileira, como se aquele território, pela primeira vez fizesse parte do território brasileiro. Diga-se de passagem, uma verdadeira operação de guerra, para "tomada" do território, antes pertencentes às "facções criminosas" e às "milícias armadas".
Nem é preciso explicar que este tipo de "enclave" existe por causa da "ausência completa" do poder público. Comunidade é eufemismo para descrever uma verdadeira cidade dentro de outra maior. É fácil de constatar a ausência dos serviços públicos essenciais, como unidade de pronto atendimento à saúde pública e também unidades de ensino fundamental, assim como creches para dar suporte às mães trabalhadoras. Além, é claro, da delegacia de polícia que será substituída por uma "delegacia de lata".
Não adianta nada a instalação das UPP, instalações provisórias de "delegacias de latas", abrigadas provisoriamente em "containers". O poder público é incapaz de construir delegacias de alvenaria de forma definitiva, além das unidades de pronto atendimento de saúde, escolas de ensinos fundamentais, creches para crianças e demais serviços públicos essenciais à população como água, esgoto e luz.
Diante da ausência do Estado, tanto municipal, estadual ou federal, as "ocupações" de complexos, seja do Alemão, da Rocinha ou da Maré, mais cheira interesse político eleitoreiro do que propriamente atendimento efetivo à necessidade da população. A ocupação do Complexo da Maré, parece atender à realização da Copa 2014, bem como servirá de base para campanha eleitoral da presidência da República.
Coincidentemente ou não, a ocupação ocorre na véspera da desincompatibilização do governador Sérgio Cabral para concorrer ao Senado Federal. O ano de 2014, também, é marcado pela tentativa de reeleição da presidente Dilma ao cargo de presidência da República.
Há que os postulantes de mais altos cargos públicos da República tomem atitudes mais pró-ativas para inserção da população menos favorecida ao contexto da sociedade brasileira. Não basta "delegacias de latas" espalhados pelos quatro cantos! Não basta discursos de inserção social, sem que leve os serviços públicos essenciais, de qualidade, à comunidade "pacificada".
Acorda Sérgio Cabral ! Acorda Dilma ! O povo está de olho em cada passo de vocês!
Isto tudo foi dito em 30 de março de 2014.
Dilma Rousseff foi eleita presidente da República em outubro de 2014 e foi "cassada" no dia 31 de agosto de 2016. O ex-governador Sérgio Cabral não se candidatou ao Senado Federal e atualmente encontra-se "preso" no Complexo Penal Bangu 9, na cidade de Rio de Janeiro.
Ossami Sakamori