Por: jornalista Toninha Rodrigues.
São 74 milhões de obesos no Brasil, segundo dados de maio de 2014, conforme estudos realizados pelo Instituto de Métrica e Avaliações de Saúde - IHME - da Universidade de Washington, disponível no link BBC
São 74 milhões de obesos no Brasil que necessitam de tratamento para o controle do peso.
São 74 milhões de obesos no Brasil, pacientes de endocrinologistas, cardiologistas, neurologistas, que clamam por condições de tratamento de saúde.
São 74 milhões de obesos no Brasil que não precisam perder 1 ou 2 quilos mas 15, 30, 40, 50, 80, 100 e muito mais quilos!
São 74 milhões de obesos no Brasil que não estão pedindo medicação gratuita, mas apenas o direito de serem tratados!
São 74 milhões de obesos no Brasil que necessitam que sua medicação seja controlada, fiscalizada e não banida do mercado.
São 74 milhões de obesos no Brasil que não devem ser condenados, nem julgados, mas adequadamente atendidos.
São quase quatro exaustivos anos de espera, três deles de luta intensa junto a deputados federais, senadores, líderes de bancadas, de partidos, do Senado e da Câmara Federal.
Sonhamos com a nossa qualidade de vida de volta com a aprovação do PDS 52/14, naquela fatídica sessão do Senado de 2 de setembro de 2013. Muitas especulações ocorreram, até finalmente o PDS do deputado Beto Albuquerque ser promulgado, três dias depois de aprovado, no formato de norma jurídica, sob nome e número DLG-000273 de 2014, no Diário Oficial da União de 5/9/2014.
A alegria e a esperança duraram pouco, até a Anvisa publicar, em 26/9/2014, após horas de reunião a portas fechadas, a tirana e covarde RDC 50/2014, reproduzindo toda a ladainha da exigência de “estudos” que “comprovem a eficácia e segurança dos inibidores de apetite” e, também, a requisição de novos registros pelas indústrias junto à agência, a despeito dos registros apresentados e aprovados em 2011, com validade até 2015, que foram simplesmente ignorados pelo senhor Dirceu Barbano.
Por outro lado, não adianta a apresentação de nenhum estudo, pois essa mesma agência se recusa a considerar a palavra de qualquer profissional ou de qualquer entidade representativa da classe médica, por maior que seja sua seriedade, competência ou credibilidade.
Sem parâmetros científicos e sem argumentação lógica/clínica para as exigências elencadas na tal resolução (RDC 50/2014), seguem sem tratamento os mais de 70 milhões de obesos, que poderiam ter suas vidas qualificadas e valorizadas se tão somente não prevalecessem os interesses de um setor do governo federal que insiste em complicar a vida de milhares de cidadãos.
Ironicamente, no mesmo dia da publicação dessa resolução da Anvisa (26/9/14), aproveitando-se o último dia da realização do XXIII Congresso Brasileiro de Nutrologia, em São Paulo, Capital, promovido pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), estiveram reunidos médicos nutrólogos e endocrinologistas de várias partes do mundo e pacientes obesos que tiveram interrompido seu tratamento com os medicamentos antiobesidade.
Da reunião, participaram os médicos Durval Ribas filho, presidente da Associação Brasiileira de Nutrologia; Raul Morin, presidente da Associação Mexicana para o Estudo da Obesidade; Paulo Giorelli, presidente do International College of Advancement of Medical Nutrition (ICAN); Richard Atkinson, fundador da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade (IASO); César Casávola, presidente da Associação Argentina de Nutrição (SAN); Any Ferreira, presidente da Sociedade Paraguaia de Nutriçao; Rafael Figueredo, ex-presidente da Sociedade Paraguaia de Nutrição (SPN); Dimitri Homar (ABRAN); Valter Makoto Nakagawa, da Seção de Vigilância Sanitária de Santos/SP (SEVISA); José Alves Lara Neto (ABRAN); Milton Mizumoto (Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva), João Alberto Ferreira Matos, membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) e da ABRAN, além de representantes de grupos de doentes obesos que lutam pela liberação dos medicamentos.
Todos os profissionais presentes foram unânimes em afirmar que a obesidade em seus países é tratada como uma doença que provoca sérios danos à saúde se não for adequadamente tratada.
O americano Richard Atkinson, médico endocrinologista com mais de 40 anos de experiência, fundador da Associação Internacional para o Estudo da Obesidade (IASO), editor do International Journal of Obesity e professor e pesquisador da Universidade de Virgínia, foi categórico em mencionar que nos Estados Unidos a obesidade é tratada como se deve, ou seja, com a prescrição, acompanhada e controlada, dos medicamentos antiobesidade dos quais nós, brasileiros, fomos privados e, ainda por cima, somos frequentemente provocados com a frase “tranque a boca a faça exercício”. A essa piada, o doutor Atkinson responde com um enfático “obesidade é uma doença crônica e precisa ser enfrentada como qualquer outra, como a hipertensão, diabetes, câncer e depressão.
Nos Estados Unidos, as substâncias que mais prescrevemos para nossos pacientes são a Phentermine (fenproporex), seguida do Dietilpropiona (anfepramona), Benzofetamina, Fendimetrazina e, mais recentemente, a Lorcaserina”.
Segundo o especialista, dieta saudável e exercícios físicos são condições para manutenção da qualidade de vida que todo cidadão deve adotar. “Quando o indivíduo chega a uma condição de obesidade crônica, onde alimentação e atividade física não resolvem, é hora de entrar com medicamento”, completa.
O doutor Durval Ribas Filho, médico nutrólogo e presidente da ABRAN, resumiu a situação dos obesos com uma frase real: “nem todo obeso come muito e nem todo magro come pouco”.
O nutrólogo e endrocrinologista Paulo Giorelli explicou que foram apresentados à Anvisa estudos e comprovações científicas a respeito dos benefícios do uso controlado desses medicamentos. “Já trouxemos casos de sucesso e provamos a necessidade, eficácia e segurança do uso da farmacoterapia no combate à obesidade. Nós somos médicos e especialistas e estamos em contato direto com os pacientes e, por essa razão, melhor do que ninguém, nós compreendemos quais são as necessidades da população brasileira.”
O encontro entre obesos e médicos resultou na Carta pelos Medicamentos Antiobesidade, que foi distribuída a entidades representativas das classes médica e farmacêutica, como uma forma de posicionamento contra a postura retaliativa da Anvisa em relação ao projeto que libera os medicamentos que os obesos tanto precisam. O documento está disponível no link ABRAN
Quase seis meses se passaram da aprovação do PDS 52/14, transformado no DLG 273/2014. As eleições se foram, políticos eleitos tomaram posse e nós? Vamos continuar com cara de palhaços, doentes e vítimas de piadas, ironias e descaso do governo?
São 74 milhões de obesos no Brasil que dependem da consciência e apoio dos senhores deputados federais e senadores para viverem ou não. Que se faça valer o DLG 273/2014 e seja aprovado o PL 2431/11, de autoria do deputado Felipe Bornier!
Toninha Rodrigues