Última sexta-feira, dia 28, foi o dia de fechamento do semestre para o setor público e setor privado. Sobretudo na área de câmbio, o preço de fechamento do dólar americano servirá para atualizar a contabilidade em real, a moeda brasileira.
Sem considerar os recebíveis em dólares que também serão reajustados conforme fechamento da cotação do dia 28, todas dívidas em dólares ou em outras moedas, equivalentes em dólares, deverão ser reajustados à cotação do dólar do último dia útil do semestre.
O Banco Central faz a média da cotação do dólar até uma determinada hora do dia para definir o Ptax, que é a cotação que deve ser utilizado em balanço das empresas públicas ou privadas. Ptax fechou em R$ 2,2156 com alta de 1,42% no dia, apesar da intervenção do Banco Central com a venda do Swap Cambial num total de US$ 3,9 bilhões, o que de certa forma segurou a cotação do dólar no final do pregão em média R$ 2,23.
Os analistas do mercado e a imprensa falam muito em situação econômica dos EEUU, claro, favorável para eles. O temor do mercado financeiro global é de que a FED, Banco Central americano, para de dar liquidez ao mercado comprando títulos americanos à vencer, num montante de US$ 85 bilhões mensais. E o mercado financeiro global trabalho com a perspectiva de que a FED aumente os juros dos títulos americanos para conter a expansão da economia, dos atuais 0,25% para algo como 0,50% ao ano.
Bom para os americanos que estão a viver novamente crescimento real de 2,5% ao ano, ou seja PIB de 2,5%. Para um país com moeda estável, crescimento de 2,5% é algo como Brasil crescer a 5% ao ano. Pior para brasileiros que terão a moeda local, o real, desvalorizar cada vez mais frente ao dólar.
Analisemos o reflexo da alta do dólar no mercado interno. Como já foi dito quinhentas vezes, o dólar depreciado ou o real apreciado está sendo usado como âncora para estabilidade da economia ou seja o dólar barato está sendo usado para segurar a inflação. Em quase tudo, o dólar tem influência no mercado interno, alguns setores em menor intensidade e outros em maior intensidade. Há uma distância enorme a percorrer até que chegue à cotação de equilíbrio do dólar. Alguns analistas acham que seria R$ 2,45 e outros acima. Pelas minhas contas, a cotação de equilíbrio seria entre R$ 2,60 e R$ 2,70.
O Banco Central, diante da situação criada, tanto no front interno como no front externo, tenta segurar o dólar na atual cotação, ou seja o dólar sendo negociado no patamar de R$ 2,20. Tanto o ministro Mantega ou o Alexandre Tombini, sabem que os próximos 30 dias o controle da cotação do dólar vai ser determinante para a trajetória da inflação no País, para o próximo semestre. O dólar já subiu 10% nos últimos 30 dias. Isto vai trazer um adicional de 2,5% no aumento da inflação nos próximos 6 meses, por razões já expostas no parágrafo anterior.
Creio que o Banco Central não vai conseguir segurar a cotação do dólar no patamar de R$ 2,20. O próximo pit-stop será R$ 2,40. No final de julho o dólar deverá estar batendo os R$ 2,40. A conjuntura é totalmente desfavorável para estabilidade da moeda. O superávit da Balança Comercial está com o acumulado do ano em terreno negativo. Os investimentos estrangeiros diretos (IED) deram um stop temporário, até por conta das ondas de movimentos do povo nas ruas. Investidor estrangeiro quer segurança no País que quer por o dinheiro. Os preços dos alimentos vão ser pressionados no mercado interno, por conta da valorização do dólar, dos commodities, apesar de cotação destes, em dólar, estar na trajetória descendente no mercado internacional.
Aliado aos fatores já descritos, o Brasil está perdendo credibilidade no mercado financeiro internacional. As agências de classificação de riscos estão anunciando viés de baixa. Isto para completar a desgraça, faz afugentar a entrada do dólar no País, apreciando ainda mais o dólar. Resumindo, todas forças puxam o dólar para cima. Tenho apenas 1/10 para errar nas minhas previsões sobre a cotação de dólar no final de julho em R$ 2,40.
O problema não é valorização do dólar frente ao real, ou desvalorização do real perante o dólar. Em todas matérias anteriores, defendi o dólar mais ajustado à realidade do mercado. Pode parecer contradição eu chamando atenção pelo fato de dólar estar a R$ 2,40 se eu próprio defendo o dólar entre R$ 2,60 e R$ 2,70. Explico. O ajuste repentino do dólar em níveis previstos, corresponde a um "maxidesvalorização" do real em 20% que é o problema.
O Brasil já viveu o fenômeno da maxidesvalorização do dólar. Foi na época do Delfin Neto, no ministério da Fazenda. As experiências não foram nada boas, quebraram muitas empresas que estavam endividados em dólar. Enfim os efeitos foram desastrosas. Quando se apresenta uma situação desta, GRAVE, várias medidas de compensações deverão ser tomadas, sob pena de valorização do dólar vir acompanhado de uma explosão inflacionária.
Pela trajetória e histórico vivido pela equipe econômica, posso afirmar categoricamente que a equipe da presidente Dilma e ela própria não tem competência para enfrentar a situação econômica que considero de GRAVE para GRAVÍSSIMO. Embora, sou radicalmente contra um banqueiro tomando conta do Banco Central, talvez seja necessário chamar o banqueiro Henrique Meirelles ou um operador de mercado como Armínio Fraga para tomar conta do pedaço. Afirmo isto, penosamente, pois é como entregar a chave do galinheiro para o lobo. Fazer o que? Erramos, então, pagamos!
Pergunto: Vocês ainda querem ficar perdendo tempo discutindo plebiscito? Não estão vendo que em pouco tempo, vamos ter uma GRAVE crise econômica? Vocês decidem se colocamos em foco a economia ou plebiscito!
Afirmo: Para quem vai sobrar a fatura da incompetência para pagar? Bingooo! Acertou quem disse que a conta vai sobrar para mim, para você e para o povo em geral, seja pobre ou remediado. Os banqueiros e afortunados, novamente, vão ganhar na crise!
Ossami Sakamori, 68, engenheiro civil, foi professor da UFPR, filiado não militante do PDT. E-mail: sakamori10@gmail.com