Crédito da imagem: Saúde Abril
Colaboração: jornalista Toninha Rodrigues
Obesos pedem socorro:
Lei dos anorexígenos é desrespeitada e pisoteada, enquanto a obesidade aumenta a cada dia!
Na semana em que se comemora o Dia Nacional de Prevenção à Obesidade, em 11 de outubro, o Brasil continua com índices crescentes de aumento de peso, chegando à marca de 53,6% da população adulta, segundo pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, realizada no decorrer do ano de 2016.
O confinamento dos grandes centros, com tempo escasso para cuidar da qualidade do que come e aliado a diversões sedentárias, como TV, games e computador, mais a grande oferta de alimentos industrializados e os chamados fast food, contribuem grandemente para a adoção de um estilo de vida contrastante com o viver saudável tão recomendado e necessário.
Ouve-se muito falar em atividade física e cuidados dietéticos. A megalópole paulistana, a exemplo de outras capitais, chegou a espalhar ciclofaixas por suas vias, para incentivar que os corpos se movimentem, enquanto estabelecimentos comerciais investem em orgânicos, desnatados, saladas, práticas anti-gordura e anti-açúcar e grande variedade de frutas como alternativa a itens calóricos; por sua vez, as discussões midiáticas passaram a incluir com freqüência o link “hábitos saudáveis” em suas pautas...
A Organização Mundial da Saúde (OMS) sinaliza o montante de 700 milhões de obesos para 2025, enquanto no Brasil o Ministério da Saúde aponta um crescimento de 26,3% da população obesa nos últimos dez anos, indicando que metade da população brasileira está acima do peso e que o número de obesos atinge a marca assustadora de 60% do total de adultos.
Considerada doença crônica pela própria OMS (CID 10), a obesidade traz conseqüências drásticas para o paciente, cuja condição ainda é vista com preconceito e ignorância no que diz respeito às causas e às formas de tratamento, especialmente o emprego de medicamentos para o controle desse mal.
Não bastam campanhas para que se coma menos e se movimente mais. Comer menos e se movimentar mais nem sempre dependem da escolha do obeso, assim como também não garantem que o organismo vá reagir da maneira como se espera. A obesidade, como já falamos neste blog por diversas vezes, é causada por fatores variados e a reação aos tratamentos disponíveis depende de cada organismo. Disfunções glandulares e hormonais, síndromes metabólicas e emocionais, sequelas de tratamentos de outras patologias, como as que exigem o emprego de corticóides, por exemplo, figuram entre os causadores mais conhecidos.
O que obesos e médicos vêm fazendo há seis anos é não só tentar garantir o direito a tratamento medicamentoso seguro e eficaz, mas também que essa alternativa seja respeitada nos âmbitos clínico e legal.
Estamos falando dos inibidores anfepramona, fenproporex e mazindol, cuja volta ao mercado nacional tornou-se possível desde 26 de junho deste ano, por força da aprovação do PL 2431/11, transformado na Lei 13.454/17.
A referida lei autoriza a produção, comércio e consumo dessas substâncias, depois da polêmica proibição feita pela Anvisa, em 2011, mesmo sob a argumentação e demonstração de eficácia e segurança por especialistas, além do uso dos medicamentos por mais de 50 anos sem relatos de perigo ou de óbitos.
Até o momento, não há cura para essa doença, apenas controle, que culmina com a diminuição do peso (IMC – Índice de Massa Corporal) e a manutenção do resultado pretendido. Esse controle envolve, entre outras medidas, justamente o emprego de terapia medicamentosa, a partir da qual o paciente conseguirá, com o avanço dos resultados, aderir a outras terapias, como atividades físicas, além de dieta adequada a cada situação.
A lei está em vigor, sal para manipular anfepramona disponível (femproporex chegará em breve, segundo informações de produtores e importadores), mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que deveria, enquanto órgão governamental, ao menos garantir que a lei seja cumprida, passou a amedrontar farmacêuticos e até médicos, impondo uma resolução de 2014 (RDC 50), contrariando a lei e a própria hierarquia jurídica; por outro lado, um entidade chamada Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde (CNTS), inventou protocolar, junto ao STF, uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn), pleiteando a impugnação da Lei sancionada em junho/2017.
Enquanto desrespeitam a lei ou tentam impugná-la, vendedores de medicamentos adquiridos ilegalmente ou “fabricados” em condições totalmente fora da lei e dos padrões de qualidade e controle, no chamado “mercado negro”, agem impunemente.
Esses sim colocam a vida de milhares de pessoas em grande risco, além de cobrarem preços exorbitantes. Em paralelo, esses milhões de pessoas vítimas da obesidade correm riscos também com medicamentos caríssimos e sem formulação voltada para tratar a doença (como Victoza, para diabetes, e Venvanse, indicado para TDAH) e a moda da cirurgia bariátrica, absolutamente dispensável se houver terapia farmacológica adequada e segura. Um detalhe é que mais de 70% dos pós-bariátricos voltam a ganhar peso em
cerca de quatro anos.
Por fim, o governo federal é obrigado a investir cada vez mais com o aumento dos níveis de obesidade, que trazem consigo aumento simultâneo de casos de diabetes, hipertensão, artroses, depressão, asma/bronquite, câncer, infertilidade e riscos de enfarto e AVC.
Relatório divulgado pela World Obesity Federation, organização sediada em Londres, para acompanhamento e pesquisa sobre a doença, aponta custos mundiais para o tratamento dessas sequelas em torno de US$ 1,2 trilhão anuais a partir de 2025. No Brasil, as cifras do relatório sugerem o aumento de US$ 16,7 bilhões em 2014 para US$ 34 bilhões em 2025.
Os obesos pedem socorro e respeito!! Acorda governo brasileiro!
Toninha Rodrigues
Jornalista, professora e integrante do movimento pela saúde dos obesos.