Escrever sobre bolha imobiliária é como escrever sobre bolha financeira. Todo mundo sabe que existe, mas ninguém mostra tecnicamente que ela existe. Existem tantas variáveis que influenciam o mercado imobiliário, mas podemos escrever algo, como já fiz várias vezes neste mesmo blog. Meu índice de acertos dos temas que trato aqui é muito grande. Aqueles que me acompanham há tempo, sabe do que eu falo.
A pergunta que se faz é se a bolha imobiliária ainda existe ou não. Vocês estão curiosos para saber se a bolha já estourou ou não. Pois vou dizer pela minha experiência no mercado imobiliário nestes últimos 45 anos, que a situação se configura como bolha imobiliária. Como vocês sabem, a minha formação é engenheiro civil. Atuei muito nesta área. Ganhei muito dinheiro, mas perdi na mesma proporção, também.
Eu me lembro que o primeiro boom do mercado imobiliário se deu no período do governo Figueiredo, no regime militar. Lembro-me até hoje, que o Figueiredo tinha propósito de suprir a demanda não atendida de 6 milhões de moradias. Havia escassez de oferta e ao mesmo tempo tinha demanda reprimida pelo crescimento espantoso do País no período da ditadura militar. Era época do glorioso BNH - Banco Nacional da Habitação.
De lá para cá, a Caixa Econômica Federal que absorveu o BNH, continua atuando praticamente sozinha na modalidade de financiamento imobiliário. Governo Lula colocou como prioritário o programa habitacional, tal qual fizera o general Figueiredo. Criou o programa Minha Casa Minha Vida, com subsídios dados com dinheiro do trabalhador, o FGTS. A Dilma deu continuidade ao programa habitacional, como o objetivo de construir 1 milhão de habitações por ano.
A inserção da classe média no mercado de consumo, fez com que a demanda pela habitação crescesse, tal qual no período do regime militar. As construtoras e incorporadoras foram chamadas para fazer empreendimentos para atender a demanda reprimida. Houve boom do mercado imobiliário. Os preços dos imóveis foram às alturas, subindo muito além da inflação. Parecia que o ciclo de lançamentos imobiliários não iria acabar nunca. Mas, tudo tem o limite. O endividamento da população está a chegar no limite. Isto afeta diretamente o mercado imobiliário.
Nestes últimos 4/5 anos, houve procura frenética de imóveis para investimentos muito mais do que para moradia, propriamente dita. Houve muitas compras feitas na planta para especulação. A classe emergente, viu no investimento em imóveis na planta como alternativa de ganho fácil. Dava-se uma pequena parcela de sinal de negócio e bastava esperar a entrega do empreendimento. O lucro era certo.
Pois, a bolha estourou! Os preços dos imóveis mal acompanha a inflação oficial. As incorporadoras que embutiam lucros astronômicos estão sendo obrigados a enxugar a margem de lucros para desencalhar. Muitas vezes, as incorporadoras estão tendo que vender o imóvel, com margem lucro zero, apenas para livrar-se do empréstimo plano empresário junto a Caixa Econômica ou outro agente financeiro.
Se antes, os plantões de empreendimentos imobiliários estavam cheios de clientela, hoje, vivem às moscas. Hoje, você consegue negociar muito bem na hora da compra. As incorporadoras e construtoras dão descontos que vão até 30% do valor da tabela. E vou mais longe. A clientela, hoje, pode exigir que as incorporadores mobiliem os apartamentos para fechamento do negócio, além do desconto.
Os especuladores estão desistindo de continuar o pagamento das prestações da parte não financiada. Isto é o começo do fim do boom imobiliário. Começam aparecer, aqui e acolá, a placa de "Vende-se". Isto é o prenúncio ou mesmo constatação do estouro da bolha imobiliária. A crise imobiliária nos EEUU, começou assim, embora pelo motivo de inadimplência dos financiamentos hipotecários.
A natureza da bolha imobiliária no Brasil é diferente daquela dos EEUU. Lá nos EEUU, quebrou bancos hipotecários. Aqui no Brasil, como o banco hipotecário é o próprio governo, dificilmente vai repetir o fenômeno que ocorreu lá. No Brasil, o estouro da bolha imobiliária vai pegar as incorporadoras e construtoras. Este filme já vi no passado. Lembro-me como ícone do estouro da bolha imobiliária no passado, o caso da Construtora Encol que deixou mais de 40 mil vítimas.
Tenho seguinte sugestão a fazer:
a) Se você ainda não comprou o imóvel, adie a compra. Encontrará condições melhores no futuro próximo.
b) Se você já deu sinal de negócio e está esperando a entrega do imóveis, renegocie o contrato ao seu favor.
c) Se você comprou o imóvel para especulação, dando sinal de negócio, saia correndo. Tente recuperar pelo menos o dinheiro que você já pôs no empreendimento.
d) Nunca compre imóvel na planta. Aquele empreendimento, poderá ficar por muito tempo na planta. E ainda tem o risco de incorporadora ou construtora quebrar no meio do caminho.
e) Se você vai comprar para moradia, pela necessidade, especule bem e negocie bem. O comprador, hoje, tem força de negociação. Pense bem nisto!
Boa sorte e muita cautela para os compradores de imóveis!
Ossami Sakamori
@SakaSakamori