quarta-feira, 22 de maio de 2013

Economia BR IX. Entenda as últimas gambiarras do Mantega!


Eu imaginei que a presidente Dilma, tinha se curado do síndrome bipolar, transferindo a condução da política monetária ao Banco Central, com intuito de tentar segurar a escalada inflacionária.  Hoje, vem o ministro da Fazenda anunciar mais gastos públicos, com redução da meta do Superávit Primário.  Vou tentar explicar a confusão que reina sobre as novas metas, no comentários que seguem às notícias.

Em vez dos R$ 108,1 bilhões planejados no início da elaboração do Orçamento de 2013, o objetivo passou a R$ 63,1 bilhões.  O governo, no entanto, criou brechas legais que, no limite, permitem reduzir o superavit a R$ 42,9 bilhões e elevar as despesas totais a R$ 948 bilhões. Fonte: Folha.

A expansão do gasto público, acelerada no ano passado, tem sido apontada pelo Banco Central como um dos motivos para a alta da inflação. Enquanto o Banco Central eleva juros para esfriar a economia e conter a inflação, a Fazenda e o Planejamento anunciam mais gastos públicos para estimular o consumo e o investimento. Fonte: Folha.

Comentário.

Muitas gambiarras foram feitas para poder gastar mais, inclusive cortes de verbas em alguns setores, como no ministério da Cidade.  Cortou de pasta que fora entregue para o ex-aliado político Eduardo Campos, PSB, em cerca de R$ 5 bilhões.  Eu disse, foram feitos cortes de despesas em alguns setores, para poder gastar mais em outros.  Entenderam a manobra?  E tem mais coisas por aí. 

Muitas gambiarras foram feitas.  A mais inusitada foi a antecipação da receita, contabilmente, não a financeira, proveniente da remuneração do Itaipu binacional com vencimentos até 2023.  A MP permite que o Tesouro emita títulos atrelados aos recebimentos anuais de R$ 4,4 bilhões, que somados dá grosso modo R$ 48 bilhões em todo período.  Pela gambiarra feita, os R$ 48 bilhões vão entrar como se fosse antecipação de receita para o ano de 2013, permitindo assim gastar mais este valor.  

Como já foi anunciado por mim, o montante de juros que o País deveria pagar ao mercado seria cerca de R$ 308 bilhões em 2013, correspondente grosso modo a 30% de toda arrecadação do governo federal no ano.  Não conseguindo pagar o total dos juros, o governo tinha estabelecido como meta o pagamento de R$ 108 bilhões como pagamento de parte dos juros do montante da dívida.  

No entanto, com a gambiarra feita pelo ministro Mantega a presidente Dilma pretende pagar apenas R$ 42 bilhões do total de R$ 308 bilhões de juros que vencem em 2013. A União Federal, como vai rolar o saldo dos juros que não consegue honrar, somado à amortização que estava prevista para este ano, a dívida pública federal para o ano de 2014, ultrapassará a cifra de R$ 3 trilhões.

Superávit Primário, para mim, é nome feio, é sinônimo de pagamento de parte dos juros da dívida pública federal. Resumindo, o valor real do montante dos juros é de R$ 308 bilhões, que passou para intenção de pagar R$ 108 bilhões, que agora, passou a ser de R$ 48 bilhões como meta para o ano de 2013.  Seja qual número for, vou colocar abaixo, a grandeza dos números do Orçamento Federal para 2013, comparativamente aos juros.

Resumo:
Previsão de arrecadação do governo federal .  R$  991 bilhões
Juros que vencem anualmente, bruto, real ....... R$  308 bilhões
Parte dos juros que Dilma pretendia pagar.........R$  101 bilhões
Juros que Dilma pretende pagar ....................... R$   48 bilhões
Orçamento do MEC ........................................... R$   90 bilhões
Orçamento do SUS..............................................R$   35 bilhões

Em são consciência, dá para dormir assim?  O Brasil não consegue pagar nem os juros da dívida pública.  Mesmo com todas gambiarras feitas, ainda assim, a Dilma vai pagar como parte dos juros, montante muito maior que o orçamento do SUS ou mais de 50% do que o governo federal gasta no MEC.

Ainda assim, com maior cara de pau, o presidente do Banco Central vem dizer que vai aumentar a taxa Selic nas próximas reuniões do COPOM.  O Brasil já paga juros médios de 11% sobre o total do da dívida porque tem títulos que pagam juros muito acima do Selic  vigente hoje.  Aumentando a taxa Selic, aumenta os juros reais.  A dívida pública brasileira está se tornando, cada dia que passa, impagável.  Será que viramos Grécia, amanhã?

Nota: Primário em negrito, foi corrigido com a participação do leitor Leandro.  Peço desculpa pelo ocorrido. Erro imperdoável. 

Ossami Sakamori, 68, engenheiro civil, foi professor da UFPR, filiado ao PDT.  Twitter: @sakamori12

4 comentários:

Unknown disse...

A gambiarra da Mantega é resultado do pagamento da Dívida Externa feito por Lula. O que pouca gente sabe é que a dívida externa transformou-se em dívida interna, praticamente impagável - tudo isso reflete nos juros. Sem falar na mau humor dos banqueiros, nacionais e internacionais, que preferiam o Henrique Meirelles, cobra criada, ao anêmico Mantega.A dança do juros está longe de acabar, se é que vai ter fim.

Leandro disse...

Muito bom Ossami, continue divulgando as trapalhadas do governo, tenho me tornado um leitor assíduo do seu blog.
Tenho um comentário:

"Superávit fiscal, para mim, é nome feio, é sinônimo de pagamento de parte dos juros da dívida pública federal."

Acho que você quis dizer "superávit PRIMÁRIO" ? Afinal governo gastar menos do que arrecada, incluindo pagamento da dívida (superávit fiscal) é excelente... o contrário do que vem ocorrendo no Brasil e na maioria dos países do mundo. Aqui na Austrália onde estou morando, o governo atual muito provavelmente irá perder as eleições agora de setembro, pois tornou o orçamento federal deficitário, coisa que o governo anterior se desgastou para por em superávit. No Brasil, ninguém comenta nada sobre, esse silêncio da mídia e da "oposição" é avassalador para quem sabe o que está acontecendo nos bastidores e tem os berros expostos em vão.

Só para concluir, infelizmente, acho que não só a dívida brasileira, mas praticamente a de todos os outros países (com especial atenção à Europa, EUA e Japão) já é impagável. O único motivo que segue sendo administrada sem muita dificuldade é pelo fato das taxas de juros estarem a níveis baixos recordes. Quando precisar subir, vai haver muito choro ou muito "default" por aí. Amortização então, nem pensar!! Devido a carga enorme da dívida desses países, qualquer pontinho percentual a mais no pagamento de juros vai impactar fortemente as contas públicas. Veremos!

Continue com o bom trabalho e abraços da terra do canguru.

sakamori10@gmail.com disse...

Prezado Leandro,

Fiquei muito feliz com o seu comentário. Nota-se que você tem conhecimento. Tudo que você falou, coincide com o meu pensamento. Parabéns!

Já estou corrigindo o termo Superávit fiscal para Superávit Primário. Erro imperdoável da minha parte, corrigi-o, no meio do caminho, até para o texto como todo não perder o nexo. Já em 1/12/2012, neste blog, postei matéria com o título: SUPERÁVIT PRIMÁRIO É COISA FEIA! Não querendo justificar, mas mostrar que tenho conhecimento do que escrevo.

Sobre dívida pública impagável de maioria dos países, também, concordo inteiramente. EEUU 100% do PIB, Japão 250% do PIB e Brasil 65% do PIB. A diferença, como você diz, está nos juros: EEUU 0,25%, Japão 0,1%, Brasil 7,50%. Em termos absolutos, os EEUU e Japão dispendem menos juros que o Brasil apesar da dívida enorme.

A GAMBIARRA da terra do jaboticaba feita pelo ministro Mantega, é digno de republiqueta de 5ª categoria. Antecipar as receitas futuras do Itaipu, contabilmente, como se fosse para hoje, para tentar cobrir o rombo aberto pelo engessamento de tarifas de energia. Receita futura entrando como receita presente, só no Brasil!

Independente de concordar ou discordar, continue participando com seus ricos comentários.

Abraço!

Evalnir Teles disse...

A questão não é o pagamento da divida, é a divida.

Que foi paga? e de repente não foi?

Pois reaparece na mídia muito maior que antes.

Se não foi paga por que o governo andou fazendo doações ao mundo todo com nosso dinheiro?