A balança comercial brasileira encerrou o primeiro semestre com déficit de US$ 3 bilhões. O resultado divulgado ontem é o pior para o primeiro semestre desde 1995, quando ficou em US$ 4,227 bilhões. São as notícias da imprensa no dia de ontem.
A grande imprensa noticia mas não explica. O resultado da balança comercial é importante para o País. O Brasil é deficitário em balança de conta corrente que compõe item sobre serviços em geral, juros e royalties. Segundo última estimativa do Banco Central, o País necessita de US$ 73 bilhões para zerar a balança de conta corrente. Para manter equilíbrio do fluxo de dólares, o Brasil vem zerando a balança de serviços com o superávit na balança comercial e com o investimento estrangeiro direto ou de especulação.
A balança de conta corrente é inexorável, não tem como mexer, senão esperar o resultado. É coisa do terceiro mundo. Os países do primeiro mundo apresentam, via de regra, balanço de conta corrente positivo, ao contrário do Brasil. O Brasil não se estruturou para diminuir a dependência do primeiro mundo neste quesito. Isto não se conserta com uma canetada. Depende de medidas de longo prazo para tornarmos independentes, ou pelo menos menos expostos aos riscos.
Com o rebaixamento da classificação de riscos pelas diversas agências de rating, o Brasil ficou exposto no mercado financeiro internacional. Em linguagem chula, falamos que o País ficou de bunda para fora. Diante do quadro exposto, o investimento estrangeiro direto tende a dar um delay nos seus projetos. Vai entrar menos dinheiro até que normalize o quadro econômico.
Quanto à entrada de dinheiro estrangeiro especulativo vai exigir que o Brasil pague juros Selic cada vez maior. Talvez seja necessário aumentar a taxa Selic para 9% já na próxima reunião. O mercado está esperando 0,5% de aumento. Tomara que não vire pânico de novo. Aqui configura bem, o que venho tentando dizer para meus leitores, que a taxa Selic não é remédio, mas termômetro. Se não fosse falta de credibilidade do Brasil, ao contrário do que se apregoa, o País poderia pagar qualquer taxa de juros. Mas não, somos dependentes do dinheiro especulativo estrangeiro.
O que isto tem a ver com a economia? Perguntariam vocês. Tem tudo a ver. O dólar também obedece a regra clássica do mercado, o preço varia de acordo com a demanda e da oferta. Se a demanda é maior que a oferta, o que acontece? Claro, o dólar vai subir. A tentativa do Banco Central em estabilizar a moeda lançando mão de Swap Cambial tornará inócua. Queimar Reserva Cambial para segurar o dólar é tiro no pé, além de o País não ter Reserva tão confortável como se apregoa o governo Dilma. Então, solução é deixar flutuar. Flutuação levará inexoravelmente para valorização do dólar ou desvalorização do real.
O Brasil se encontra naquela situação fielmente representada pelo ditado popular: "se correr bicho pega, se parar o bicho come!"
Ossami Sakamori, 68, engenheiro civil, foi professor da UFPR, filiado não militante do PDT. Twitter: sakamori10@gmail.com
Um comentário:
Enquanto a economia despenca ladeira abaixo, enquanto o povão é enganado com a falácia do plebiscito, mais uma péssima notícia: a minuta da reforma eleitoral que chegou à CCJ da Câmara e será apresentada aos líderes é generosa para futuros candidatos. O PL 5.735/13 afrouxa a prestação de contas e permite que candidatos inaugurem obras durante a campanha – o que é proibido hoje e pode beneficiar diretamente a presidente Dilma, e governadores que tentarão a reeleição.
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