segunda-feira, 12 de março de 2012

DESINDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL

Tratar de desindustrialização do Brasil, em poucos linhas, é como tentar explicar uma cirurgia cardíaca de 8 horas num vídeo de 5 minutos. Porém, sou muito cobrado a explicar sobre o tema e não furtarei em fazê-lo um pequeno release, em linguagem de leigo.  Naturalmente, que os industriais deverão procurar as suas próprias entidades de categoria, para entender melhor os problemas que atinge especificamente a cada segmento industrial.  Esta matéria é para leigos, friso.

1. Custo Brasil. O custo Brasil representa cerca de 50% do valor do produto. Qualquer produto que custa na porta da fábrica R$100,00, a nota fiscal terá que sair por R$200,00 para cobrir diversos itens do Custo Brasil, já amplamente exposto na matéria anterior: Custo Brasil, o que é?

2. Assimetria. Ao contrário das pequenas e médias indústrias brasileiras, as empresas transnacionais recebem dos 3 níveis de governo, incentivos fiscais que diminuem o Custo Brasil para cerca de 50% do que pagam as indústrias brasileiras. Isto é, as indústrias transnacionais conseguem colocar o produto de R$100,00 por R$150,00 em nota fiscal. Logicamente, isto é uma média. Diferencia de setor para setor.  Isto se chama "concorrência desleal" ou não é?


3. Indústria de base. Indústria da indústria. A indústria do setor está totalmente sucateada. O país não produz nem um torno industrial, equipamento básico de qualquer indústria. Triste, mas é a realidade. O Brasil é totalmente dependente das indústrias de ponta dos países desenvolvidos e agora também da China. Isto tem solução. Passa necessariamente por duas providências, a da desoneração fiscal e financiamento do BNDES nas mesmas condições que se dão às empresas transnacionais.  Sem indústria de base, não existe o país.


4. Câmbio. Os sucessivos governos, independente de cores partidárias, não vem dando devida atenção ao câmbio.  Ou melhor, está se utilizando do câmbio para segurar a inflação. Isto traz consequência nefasta permitindo a "falsa prosperidade", como aconteceu na Grécia, ontem. Fiz várias simulações, utilizando-se do índice oficial de inflação, descontado o da inflação americana, o dólar americano deveria estar cotado a  R$2,40. Utilizando-se do IGPM o número vai para estrastofera e para não causar pânico vou deixar de mencionar aqui.  Quem está no setor de exportação sabe muito bem o que estou a dizer.  Várias medidas poderiam ser tomadas para colocar o dólar no patamar real, entre as quais a baixa acentuada da taxa de juros básicos SELIC paga pelo governo da União. O governo Dilma não faz ou tem medo de fazer.


5. Qualificação da mão de obra. Não existem engenheiros e tecnólogos suficientes para o novo cenário proposto por mim. O Brasil tem um "gap" de mão de obra. Vamos ter que obrigatoriamente importar engenheiros e tecnólogos do exterior, se implementadas medidas propostas aqui.  Triste realidade. Só temos mão de obra de fábrica.  


Existe muita falação sobre o tema, de todos os lados.  Do lado dos governos e do lado dos empresários.  O Brasil está como nau sem rumo. Não temos Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, já citado por mim. Tomam-se medidas pontuais, de tapa buraco.  E todos aplaudem como platéia do programa Silvio Santos. Brasil é um país de "oba oba".


Ossami Sakamori, 67, engenheiro civil, foi professor da UFPR, pequeno/médio empresário. 
Atendo pela rede Twitter : @Sakamori10

2 comentários:

Br1000 disse...

Grande mestre Sakamori.
Infelizmente o Brasil é tudo isso que relataste.
Com o DESgoverno que esta DEScontruindo nosso país nem nossos bisnetos terão motivos de se orgulhar deste nosso BRASIL.
Não vai demorar muito para nos mesmos vermos o caminho sem volta que os estamos tomando. Direto para uma CUBANIZAÇÃO onde não produziremos mais nada. E o povo seguindo cegamente para o desabastecimento total.
Perderemos nossos pensadores, nossos profissionais gabaritados, nossos cientistas por pura falta do que fazer aqui.
Promessas uLLulantes cegam o povão e com isso a camarilha vai se locupletando das riquezas que ainda nos restam.

Rose disse...

O texto é uma aula de verdade. Sinto vergonha quando vejo comentaristas tão medíocres (ou vendidos) na TV.