Antes de responder a pergunta é necessário contrapor a alguns conceitos repetidamente ditos pelas autoridades monetárias, analistas econômicos retuiteiros do Planalto e pela grandes mídias brasileiras. Sobre esses conceitos já fiz referência em outros blogs meus, anteriormente, porém vou repeti-los aqui novamente.
Taxa básica de juros SELIC segura a inflação.
As autoridades monetárias do Brasil, nunca mentiram tanto. A taxa básica e juros pode ser um dos instrumentos da política monetária, mas não o único componente. Pelo contrário, poderá ser um componente de realimentação da própria inflação. Se o objetivo do mercado é "enxugar" o mercado, tem um outro instrumento da política monetária mais eficaz e imediato, ou seja o "depósito compulsório dos bancos".
O fato é que a política monetária se faz com vários instrumentos, inclusive com a taxa básica de juros, mas não tão somente com este. Seria como se fosse um DJ controlando o som com o "equalizador" com múltiplos botões.
Então, por que continuamos pagando SELIC de 9,75%,
a mais alta do mundo?
É mais ou menos como acontece com situação pessoal. Quando você está muito bem financeiramente, os bancos vem oferecer empréstimos a juros de pai para filho. Agora, imagine você se estiver feio na fotografia na praça, os bancos vão cobrar juros acima do mercado e de quebra vão exigir que mantenha parte do crédito liberado em depósito vinculado com juros simbólicos.
O Brasil está mais ou menos nessa situação descrita acima. No passado não tão distante, pedimos até "moratória". Num passado mais recente, na flexibilização do dólar, já pagamos juros SELIC de 50% aa. Esta situação só veio a reverter por que mantemos hoje Reserva Cambial alta, que funciona como "garantia" de pagamento dos juros, remunerado a pífios 0,25% aa. Lembra-se do depósito vinculado que o cara que está feio na fotografia?
Por falta de credibilidade o prazo médio do pagamento do principal da dívida líquida do Tesouro está pouco além de 3 anos. Ou seja, se o país não conseguir "rolar" a dívida devemos desembolsar nos próximos 3 anos, valor equivalente a 50% do PIB, ou seja próximo de R$ 1,9 trilhões. Segundo fontes do BC, 23% do total, ou seja grosso modo R$500 bilhões vencem nos próximos 12 meses! Só de juros próximo de R$200 bilhões, neste ano, considerando já o SELIC de hoje. Isto se diz repeito à credibilidade do Brasil. A verdade está aqui. Não adianta mentir dizendo que é para segurar inflação! É desculpa do país que caiu na arapuca da agiotagem internacional, por incompetência de diversos governos, antes, durante e pós Lula.
Finalmente, é possível baixar SELIC para 6,50% ?
É possível, sim. O cenário externo permite isto. O momento é único. As principais bancas estão em dificuldades, EEUU com pouco crescimento, União Européia em quase estagnação e Japão quase parando. E apesar de tudo, pasmem, pagando juros básicos de 0,25% aa, 1,0% aa e 0,1% aa nominais. Descontado inflação, eles estão pagando juros negativos, ou seja abaixo da inflação. O cenário interno permite também. Inflação está sob controle e com baixo crescimento, para dizer apenas alguns componentes.
SELIC a 6,50% terá que mexer em 2 componentes através de portaria ou decreto, sem causar grandes traumas no mercado e na população. Aquém deste número, seria preciso mudar legislação, como o da Caderneta de Poupança, FGTS e correções judiciais. A primeira providência é tirar o Imposto de Renda de ganho de capital para aplicações em títulos públicos, assim como já faz para as aplicações especulativas dos estrangeiros. Cobrar Imposto do próprio empréstimo é um contra senso tão grande que não tem explicação. A segunda providência é tirar correção monetária do Caderneta de Poupança, pagando apenas os juros de 6,0% aa. Vai ter que explicar muito, isto vai ter. Mas, afinal, não elegemos presidente para isso, não foi? Para explicar ao povo sobre deveres de casa que vai se fazer, ao invés de ficar chamando europeus de "canibais".
Todo blá, blá, blá que estão a falar sobre SELIC diferente desta matéria é pura demagogia. É apenas, jogo de cena das autoridades monetárias do país, sob comando da presidente Dilma Rousseff. O pior, o pior de tudo, aplaudido pelos agentes públicos e privados como se fosse, já disse antes, platéia do Silvio Santos. "Roquee! Onde você está?"
Ossami Sakamori, 67, engenheiro civil, foi professor da UFPR, consultor de invetimento em dias de folga.
Atende pela rede Twitter : @sakamori10
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