Seria estranho, sendo eu descendente de japoneses, de primeira geração no Brasil, se não desse depoimento no dia que completa 1 ano de catástrofe natural mais significativo dos últimos 100 anos do Japão. Falo do terremoto seguido de tsunami acontecido na província de Fukushima, há exatamente 1 ano.
Desnecessário seria descrever sobre a tragédia, porque a grande mídia, já a noticiou amplamente. Descreverei aqui alguns tópicos que passaram meio despercebido pela imprensa brasileira.
1. O tamanho do desastre. Segundo imprensa internacional o desastre teria custado ao Japão, em equivalente à moeda brasileira, cerca de R$ 500 bilhões, computados prejuízos diretos e indireto, decorrente do tsunami.
2. A agilidade do governo. Em matéria de infraestrutura, que é encargo do governo, as providências foram tomadas rapidamente. Em poucos meses, o sistema de transporte, incluindo rodoviário, ferroviário e aeroviários, estavam totalmente restabelecido.
3. Usina nuclear. Japão depende de usinas nucleares. Quase não há usinas hidroelétricas, nem tão pouco outra forma forma de geração de energia limpa, devida a própria geografia da península. Neste ano que passou, todas usinas nucleares passaram por revisões. A usina de Fukushima, está sendo revisado e possivelmente voltará a funcionar nos próximos anos. Os danos causados pelo vazamento do vapor com irradiação parece ter sido menos do que esperado.
4. O governo. Ao contrário do que se imagina, o governo dá pouca assistência à população atingida, além do básico. Foram providenciados em tempo recorde, abrigos provisórios para cada família, em latas. E devido suporte de infraestrutura como a de saúde e de educação. Como dá a entender, o governo diz: daqui para frente é com vocês!
5. Serviço de voluntariado. As falhas de atendimento do governo, são atendidos pelos serviços de voluntariado que funciona, permanentemente, ao contrário do nosso país que funciona apenas no período de tempo que o episódio fica exposto na mídia. Diga-se de passagem que este tipo de serviço é mantido pelo setor privado, ao contrário do nosso país que é mantido pelo governo.
6. Indústria pesqueira. Na região atingida, a indústria pesqueira ficou totalmente prejudicada. A maior parte dos navios pesqueiros da região atingida foram danificadas, segundo estimativa, 2/3 deles. Hoje, os navios que restaram fazem arrastões no fundo do mar para fazerem limpezas de lixos carregados pelo refluxo do tsunami.
7. Famílias. As famílias atingidas estão totalmente esfaceladas e sem recursos para recomeçar. Muitos vão tomando outros rumos daqueles vividos antes. Outras vão tentando retomar a vida anterior, mas com muito sacrifício.
A indústria pesqueira, a mais atingida, estão tentando reerguer em forma de cooperativas. Com certeza, levará muitos e muitos anos para as famílias refazerem suas vidas. As cicatrizes como perda de membros da família, ficarão marcadas para sempre.
8. Comunicação e informação. Fico impressionado, como a imprensa japonesa é livre. O próprio canal NHK uma ONG estatal, noticia abertamente, todas as falhas do governo, expõe as vozes do povo, através de canal aberto. Dá espaço igualitário para situação (droit) e oposição (gauche) debater todos os temas, inclusive sobre o desastre.
9. Conclusão. O que comanda o Japão é o povo japonês, não o governo. O povo japonês é cordato, mas quando necessário é corajoso e vai em frente. Dá para entender o motivo pelo qual o Japão de um país derrotado na II guerra Mundial, hoje é 3ª economia do mundo, atrás apenas dos EEUU e China.
Gambaré Nippon! = Em frente, Japão!
Ossami Sakamori, 67, engenheiro civil, foi professor da UFPR, filho de japoneses, nascido em Bastos/SP.
Atende pela rede Twitter: @Sakamori10
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