sábado, 17 de março de 2012

AS UNIVERSIDADES CAMINHAM A REBOQUE DA SOCIEDADE

É isto mesmo que você leu. Universidades caminham a reboque da sociedade. Infelizmente, a grande maioria das universidades não caminham na vanguarda da sociedade.

Como fiz parte do corpo docente de uma das melhores universidades (sic) do país, a Universidade Federal do Paraná, posso afirmar isso de cadeira.  Digo universidades, mas me refiro à maioria dos cursos superiores existentes no Brasil. O índice de desempenho demonstrado pelas melhores instituições de classificação do mundo, o rating do ensino, colocam apenas alguns destas nas melhores classificações, como a USP, FGV, ITA e Unicamp.  

Escrevo esta matéria com muito pesar. Afinal, fiz parte desta estrutura de ensino, retrógrada, parada no tempo do império, que caminha com sofreguidão.  Aliás, um dos motivos da minha saída do corpo docente, foi justamente por que aquela função, ao em vez de me dar orgulho me dava uma angústia enorme, por dever que não poderia cumprir.  Infelizmente a estrutura de apoio não era adequada para formação de um profissional à altura de honrar o próprio diploma. Era cultura que reinava à época. E conversando com o corpo docente de hoje, vejo que nada mudou, infelizmente.


O assunto é complexo para tratar em poucas linhas, mas vou fazê-lo, mesmo sabedor de que serei foco de crítica de "intocáveis" donos do "progressos da ciência".  


Com raríssimas exceções, como os cursos de medicinas deste país a fora, dão formação, nos hospitais de clínicas próprios ou conveniados sob forma de  plantões, residências e especializações, formam médicos à altura da necessidade do país.  De outras profissões, infelizmente, não posso dizer o mesmo.

Que tipo de profissionais formam as universidades, então? Formam sim, mestres e doutores em ciências puras e em quantidades enormes.  Muitos destes, mestres e doutores nas áreas respectivas, defendem teses teóricas, sem mesmo nunca ter pisado num laboratório de última geração, ou atravesado a porta de indústria de ponta.  Criamos pelo menos, então, cientistas que levarão o país à inovação tecnológica?  Não, não criamos. Criamos cientistas de antepenúltima geração! Ou seja, as universidades andam à reboque da sociedade. 

Os que fazem parte do corpo docente, vão dizer que termos cientistas de antepenúltima geração é melhor que nada.  Concordo em parte, que é melhor que nada. Por outro lado, as mesmas pessoas que irão me criticar vão concordar que isto é muito pouco para um país que quer se tornar potência mundial.   

As nossas universidades, com exceção de poucas aqui nominadas e outras não, estão totalmente sem estrutura de material e recursos humanos. Garanto que nisso vou ter concordância uníssona. As nossas universidades estão sucateadas! 


A origem de tudo isto está na cultura de um pseudo socialismo, de que tudo que vem da iniciativa privada é ruim ou de que a estrutura do capital explora os trabalhadores. Ouvi muito isso, à época da minha atuação como docente, e continuo a ouvir o mesmo discurso, ainda hoje. Engraçado isso. Penso eu que se queremos ver o país como potência mundial, pressupõe estar inserido no contexto global. 


O pior, o pior de tudo é que muitos militantes que comandam o país, ainda pensam assim. Estão, ainda nos tempos do "woodstock" ou nos tempos da revolução socialista do Fidel Castro. Urge mudar de cultura. Até os camaradas comunistas chineses, bem sucedidos, mudaram de postura há mais de 20 anos!

A solução, qual é a solução para o problema, então? Quando mato a cobra mostro o pau.  Penso eu, se é a iniciativa privada é que produz emprego e arrecada impostos para dar suporte financeiro para o resto da sociedade, porque não podemos aproximar as nossas universidades à iniciativa privada? Se iniciativa privada for bem, mais impostos arrecadam ao governo.  Com mais impostos arrecadados, o governo pode proporcionar serviços mais eficientes para toda a sociedade. É questão de aritmética, 2 + 2 = 4.

Não tem como, a ordem terá que vir de cima. Não adianta fazer reuniões, audiências públicas, etc.  Seria necessário  que a presidente da República e seus ministros de Educação e de Ciência e Tenologia, digam ao país e ao povo, quais são as funções que estão destinadas às nossas universidades. Que digam em alto e bom tom para os dirigentes das universidades públicas e privadas que, de agora em diante, as instituições de ensino deverão trabalhar junto com a iniciativa privada e em consonância com as necessidades do país.   


Simples. Que a presidente Dilma diga ao país que o papel das universidades é estar à vanguarda da sociedade, em parceria com a inciativa privada, para levar o país à liderança mundial em inovação e tecnologia. O dinheiro para viabilizar isto virão, naturalmente, da iniciativa privada, sem nenhuma sombra de dúvida.

Ossami Sakamori, 67, engenheiro civil, foi professor da Universidade Federal do Paraná. Hoje, cidadão comum.
Atende pela rede social Twitter: @sakamori10

3 comentários:

Ildefonso Borba Weingart disse...

Parabéns, claro e objetivo!

Anônimo disse...

Parabéns nobre professor Ossami Sakamori !

Em que época histórica vivemos hoje ? <=> ?

Universidade e conhecimento

Como instituição que se dedica à produção e transmissão de conhecimento, a universidade não tem como deixar de ser afetada pelo modo como as épocas históricas e as sociedades entendem o conhecimento. Por estar sempre socialmente referenciada, a idéia de conhecimento oscila conforme os movimentos da história, a correlação de forças, as disputas de hegemonia e dominação. É ele um valor em si, voltado para o crescimento intelectual e moral das pessoas, ou um recurso para que as pessoas se adaptem melhor ao mundo? O conhecimento pode ser pensado como um fim em si mesmo, que liberta, promove e emancipa, ou como um instrumento de desenvolvimento profissional e ajuste, com o qual as pessoas melhoram sua posição relativa diante do mercado de trabalho, por exemplo.
Forte abraço
Ref: Marco Aurélio Nogueira

Dharma Sistemas disse...

Parabéns! Concordo e digo mais:

As universidades deveriam se preocupar em formar profissionais capazes de produzir conhecimento e inovação, e não apenas reproduzir o conhecimento existente.

Ari Monteiro
Msc. Eng. Civil/Micro-empresário