quinta-feira, 19 de abril de 2012

SELIC DE 9% É DA VELHA DILMA

A Nova Dilma vem fazendo estardalhaço sobre spread bancário no Brasil, como se de repente tivesse descoberto, após 8 anos e 15 meses de gestão, que o sistema bancário é o vilão da economia. A presidente descobriu que daria para mexer no spread bancário dos próprios bancos estatais e mandou BB e CEF baixarem os juros. Espero que a presidente tenha tomado medida de tal forma que não quebrem as instituições estatais centenárias. Fazendo esta ressalva, ela tomou atitude correta, por isso denominei a presidente de Nova Dilma. E agora, sobre Velha Dilma.

Ontem, no COPOM, Dilma mandou Tombini cravar a taxa SELIC nos 9% aa.  Medida tímida ao meu ver. O cenário econômico atual permitia ousar mais.  Deveria ter aproveitado para baixar ao nível de 8,25% aa, taxa sugerido por este bloguista em matéria anterior.  O país teria economizado cerca de R$15 bilhões adicionais em pagamento de juros. Ainda assim, com a nova taxa, o Brasil dispende, somente em juros, considerada a nova taxa, cerca de R$190 bilhões ao ano. Só para relativizar o tamanho do dispêndio em juros, a arrecadação prevista do governo federal para 2012 é de R$1,145 trilhões.  Isto significa que cerca de 16,5% de tudo que arrecada vai para o pagamento de juros.  


É importante relativizar o que significa a nova taxa SELIC.  No aspecto positivo, já não somos mais a maior taxa de juros do planeta. Agora, o segundo do ranking mundial o  Haiti que ocupava a segunda posição passa a ocupar a primeira.  Então, orgulhar-se de que não somos mais o pagador do mais alto juros do mundo é como Barrichello comemorar o penúltimo lugar na Fórmula 1.  


Argumentos contrários para este analista informal do mercado financeiro, tem de sobra.  Diga-se de passagem, que é como este bloguista que o mercado financeiro global vê a situação do Brasil.  Não pensem que é diferente.  
O mercado analiza relativilizando com demais países.  Lembrando que os EEUU pagam 0,25% aa de juros sobre seus títulos, Zona de Euro 1,0% aa, Japão 0,1% aa. Todos eles, pagando juros abaixo da inflação. Então, vamos relativizar com os juros pagos pelo governo da China. China paga juros de 2,21% aa acima da inflação anualizada, em fevereiro de 2012. Considerando que a inflação anualizada do mesmo período no Brasil foi de 5,98% aa, se pagando os mesmos juros reais da China, a taxa SELIC no Brasil deveria ser de 8,19% aa.  Arredondando para cima, 8,25% aa cravados. O excesso é dinheiro que vai para especulador.

O futuro só o tempo dirá, mas se considerar a meta de inflação do próprio governo que é de 4,5% aa, temos margem de chegar a taxa SELIC no médio prazo para     6,75% aa, sem forçar a barra.  E olha que para chegar neste número, nem precisa mexer na remuneração da Caderneta de Poupança, calcanhar de Aquiles do sistema. 


Voltando o assunto do início desta matéria, sobre spread bancário.  Não devemos esquecer sobre o custo de captação, componente importante na formação da taxa de juros, amplamente explicado em matéria anterior sobre "Spread Bancário no Brasil".  A lógica funciona assim.  
Se o próprio governo paga 9% aa na captação, o sistema bancário bancário privado obrigatoriamente deverá pagar taxa acima do SELIC, impedindo deste sistema praticar juros em níveis internacionais como quer a Dilma.  O discurso da Nova Dilma não bate com a prática da Velha Dilma. 


O Brasil não aguenta mais conviver com sucessivos presidentes com personalidade bipolar. Em qual acredito?  
Na Nova ou na Velha Dilma, eis a questão!

Ossami Sakamori, 67, engenheiro civil, foi professor da UFPR, cidadão unipolar.
Atende pela rede social twitter: @sakamori10

Um comentário:

Daniella Caruso Gandra disse...

Olá, Sakamori! Primeiramente, quero elogiá-lo na forma como você escreve, é um texto muito bem elaborado, e um tanto informal, como numa conversa, o que facilita o entendimento. Entendo sua confusão quanto a crer ou não na presidente, mas penso que o velho posicionamento pode sim contribuir, mesmo que em pequenas doses diárias, para um novo "olhar", um novo posicionamento frente aos desafios dos juros no país, por exemplo. Ela está fazendo o que pode.
Abraços e ótima quinta pra você.