Os membros do COPOM reafirmaram, na Ata publicada
hoje, que a atual conjuntura econômica ainda prescreve taxa de juros abaixo da
taxa neutra. Este estímulo pode, contudo, ser removido gradualmente caso o
cenário prospectivo para a inflação e/ou seu balanço de riscos piorem. Isto nos
parece pouco provável à luz das sinalizações feitas pelo governo recém-eleito,
que pretende prosseguir com a agenda de reformas. Tais sinalizações, inclusive,
promoveram importante alívio nos indicadores de condições financeiras.
O cenário do Banco Central (BC) é de recuperação
gradual da atividade doméstica em meio a um quadro internacional de maior
aversão ao risco, decorrente da normalização dos juros nos EUA e do comércio
global enfraquecido. A inflação subjacente segue em nível apropriado e as
expectativas inflacionárias estão em linha com as metas. As projeções do BC
para o IPCA apontam para 4,4% (2018) e 4,2% (2019), em ambos os cenários
simulados (referência ou mercado), sendo que o pico do IPCA em doze meses tende
a ser atingido no 2T19. Já para 2020, a projeção oficial oscila entre 3,7% [com
Selic@ 8,00% e BRL@ 3,80 (2019)] e 4,1% [Selic@ 6,50% e BRL@ 3,70 (2019)]. As
metas do CMN para o IPCA são: 4,5% (2018), 4,25% (2019) e 4,00% (2020).
Quanto aos fatores de risco em torno de seu cenário, o
Comitê confere maior peso à possibilidade de frustração com as reformas/ajustes
econômicos, especialmente em um contexto de piora do quadro externo (riscos
altistas). Por outro lado, a elevada ociosidade da economia (desinflacionária)
é admitida pelo colegiado, bem como a menor assimetria do balanço de riscos na
comparação com a última reunião (19/set). Esta menor assimetria deriva da
rápida correção observada nos prêmios de diversos ativos, em antecipação a um
desfecho eleitoral construtivo para as reformas macroeconômicas, em nossa
visão.
Sobre os próximos passos do BC, avaliamos que:
i) A atividade
doméstica seguirá em moderada recuperação; os indicadores de confiança mais
recentes parecem apontar para certo crescimento represado, que estava apenas
aguardando maior clareza no horizonte para se materializar. Partindo de uma
base fraca, este crescimento será ainda insuficiente para gerar pressões
inflacionárias de demanda;
ii) O balanço
de riscos tende a se tornar equilibrado; na medida em que as sinalizações
reformistas do novo governo sejam traduzidas em medidas concretas sob avaliação
do Congresso. O equilíbrio de forças no Congresso parece, inclusive, favorável
à implementação de medidas neste início de mandato;
iii) As
expectativas inflacionárias devem permanecer ancoradas; pois os pilares básicos
da política econômica doméstica devem ser preservados a partir de 2019,
conforme indicado pelo novo Ministro da Economia.
Desta maneira, com o Congresso sob nova direção e o
andamento adequado da agenda econômica, avaliamos que a taxa Selic será mantida
em 6,50% ao ano até o terceiro trimestre de 2019, pelo menos. Daqui para frente,o
adequado andamento das reformas será crucial para manter reprimidos os prêmios
de risco, colaborando também para manter a política monetária estimulativa. No
longo prazo, a agenda de reformas pode assegurar igualmente a redução da taxa
estrutural de juros da economia e a sustentabilidade do crescimento.
Daniel Xavier, economista-chefe@DMI_Group
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