terça-feira, 6 de novembro de 2018

COPOM: acompanhando a agenda de reformas



Os membros do COPOM reafirmaram, na Ata publicada hoje, que a atual conjuntura econômica ainda prescreve taxa de juros abaixo da taxa neutra. Este estímulo pode, contudo, ser removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação e/ou seu balanço de riscos piorem. Isto nos parece pouco provável à luz das sinalizações feitas pelo governo recém-eleito, que pretende prosseguir com a agenda de reformas. Tais sinalizações, inclusive, promoveram importante alívio nos indicadores de condições financeiras.

O cenário do Banco Central (BC) é de recuperação gradual da atividade doméstica em meio a um quadro internacional de maior aversão ao risco, decorrente da normalização dos juros nos EUA e do comércio global enfraquecido. A inflação subjacente segue em nível apropriado e as expectativas inflacionárias estão em linha com as metas. As projeções do BC para o IPCA apontam para 4,4% (2018) e 4,2% (2019), em ambos os cenários simulados (referência ou mercado), sendo que o pico do IPCA em doze meses tende a ser atingido no 2T19. Já para 2020, a projeção oficial oscila entre 3,7% [com Selic@ 8,00% e BRL@ 3,80 (2019)] e 4,1% [Selic@ 6,50% e BRL@ 3,70 (2019)]. As metas do CMN para o IPCA são: 4,5% (2018), 4,25% (2019) e 4,00% (2020).

Quanto aos fatores de risco em torno de seu cenário, o Comitê confere maior peso à possibilidade de frustração com as reformas/ajustes econômicos, especialmente em um contexto de piora do quadro externo (riscos altistas). Por outro lado, a elevada ociosidade da economia (desinflacionária) é admitida pelo colegiado, bem como a menor assimetria do balanço de riscos na comparação com a última reunião (19/set). Esta menor assimetria deriva da rápida correção observada nos prêmios de diversos ativos, em antecipação a um desfecho eleitoral construtivo para as reformas macroeconômicas, em nossa visão.

Sobre os próximos passos do BC, avaliamos que:
i) A atividade doméstica seguirá em moderada recuperação; os indicadores de confiança mais recentes parecem apontar para certo crescimento represado, que estava apenas aguardando maior clareza no horizonte para se materializar. Partindo de uma base fraca, este crescimento será ainda insuficiente para gerar pressões inflacionárias de demanda;
ii) O balanço de riscos tende a se tornar equilibrado; na medida em que as sinalizações reformistas do novo governo sejam traduzidas em medidas concretas sob avaliação do Congresso. O equilíbrio de forças no Congresso parece, inclusive, favorável à implementação de medidas neste início de mandato;
iii) As expectativas inflacionárias devem permanecer ancoradas; pois os pilares básicos da política econômica doméstica devem ser preservados a partir de 2019, conforme indicado pelo novo Ministro da Economia.

Desta maneira, com o Congresso sob nova direção e o andamento adequado da agenda econômica, avaliamos que a taxa Selic será mantida em 6,50% ao ano até o terceiro trimestre de 2019, pelo menos. Daqui para frente,o adequado andamento das reformas será crucial para manter reprimidos os prêmios de risco, colaborando também para manter a política monetária estimulativa. No longo prazo, a agenda de reformas pode assegurar igualmente a redução da taxa estrutural de juros da economia e a sustentabilidade do crescimento.









Daniel Xavier, economista-chefe@DMI_Group

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