domingo, 11 de novembro de 2018

Brasil gasta R$ 350 bilhões ao ano em juros da dívida pública



Grande bobagem ficar discutindo a independência do Banco Central como se todos problemas da política monetária originasse desse suposto "mal".  Nada disso é verdade.  Um mandato fixo de quatro anos para o presidente do Banco Central como propõe o Paulo Guedes, ministro do presidente eleito Bolsonaro, não deveria ser o tema central da política monetária.  O assunto da política monetária é ao mesmo tempo simples e complexa que nenhum presidente da República tem ousado manifestar sobre o tema.  Muitos articulistas econômicos tem ousado a manifestar sobre o tema.  E, o povo otário pensa que o Brasil está resolvido com a eleição de um novo presidente.  O buraco é bem mais para baixo!

O maior  problema do Brasil é o endividamento público.  O endividamento público bruto está pouco acima de R$ 5,5 trilhões e o endividamento líquido está ao redor de R$ 3,8 trilhões.  A diferença entre os endividamentos públicos decorre sobretudo da manutenção da Reserva cambial de cerca de US$ 390 bilhões ou R$ 1,46 trilhão e também da diferença de juros de empréstimos subsidiados às empresas como JBS & outras.  Enfim, a dívida pública bruta é de R$ 5,5 trilhões, que corresponde a cerca de 78% do PIB corrente.  

Antes de fazer o cálculo do dispêndio do País com os juros, precisamos considerar que a nossa Reserva Cambial está sendo aplicado no mercado de títulos do Tesouro americanos a uma taxa média de 2%, muito abaixo dos 6,5% da taxa básica de juros Selic.  A Reserva Cambial funciona, na prática, como o "saldo médio" que os bancos comerciais exigem dos devedores duvidosos.  E, os empréstimos feitos ao BNDES, em tese, deveria render a taxa Selic, mas isso só ocorre na teoria porque os empréstimos feitos às empresas amigos do Planalto foram feitas à taxa média de 3,5% ao ano, fixo.  Enquanto isso, o povo paga 350% ao ano de juros  sobre os saldos devedores do cartão de crédito ou 150% ao ano sobre saldos devedores.  

Fazendo cálculo dos juros dispendido pelo governo da União, independente de o presidente do Banco Central ter mandato fixo e ele se chamar José ou Antonio, grosso modo será de $ 350 bilhões por ano.  O valor corresponde a cerca de 5% do PIB, o que é uma babilônia de dinheiro. O agravante no caso do Brasil que o prazo médio das dívidas públicas é de 7 anos, enquanto em países desenvolvidos o prazo médio está ao redor de 20 anos.  Repetidamente, tenho chamado atenção ao problema do endividamento da União ou do Tesouro Nacional, no entanto, as autoridades monetárias, o Ministério da Fazenda e o Banco Central tem feito ouvidos de moucos.  

Fala-se muito em "déficit primário", que é o dinheiro que falta para cobrir as despesas correntes do governo federal, como se fosse o único problema do País, mas o "buraco" está mais para baixo.  Se considerar também o pagamento de juros, o "déficit nominal", o total do "rombo fiscal" está próximo de R$ 500 bilhões a cada ano.  Como disse o Paulo Guedes, só de juros, o Brasil gasta um "Plano Marshall" por ano.  Para quem não se lembra, o Plano Marshall foi o dinheiro que os Estados Unidos que doou aos aliados na Segunda Guerra Mundial para a reconstrução do continente europeu. 

Colocado assim, mesmo os leitores leigos já perceberam que a independência do Banco Central é questão de natureza secundária.  O fato concreto é que a política monetária executada pelos banqueiros, Meirelles e Ilan, só atenderam e atendem aos interesses do próprio sistema financeiro.  O mandato fixo ao presidente do Banco Central é como entregar a chave do galinheiro para o lobo.  

Enfim, Brasil gasta R$ 350 bilhões ao ano em juros da dívida pública ao ano.  A continuar insistindo nessa política monetária equivocada, o Brasil caminha celeremente à situação da Turquia, Itália e Grécia.  Não será a independência do Banco Central que resolverá o problema do endividamento público brasileiro.

Brasil gasta R$ 350 bilhões ao ano em juros da dívida pública. 

Ossami Sakamori


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