Colaboradora:
Amanda Sindmann
Em um ano que promete ser marcado por muita convulsão política, a jogada mais importante - até o momento em que este texto foi escrito - foi dada pelo presidente Michel Temer no dia 16 de fevereiro com o decreto nº 9.288 que formalizou a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Embora tenha ocorrido ao custo da necessária reforma da previdência (e que não é o escopo deste texto), a medida estremeceu o panorama político e alterou o balanço das forças que se preparam para disputar a eleição de outubro.
Não se trata, aqui, de avaliar se a forma como a ação foi feita é ou não a melhor possível, portanto deixemos o debate deste aspecto para outra hora. Agora, atentemos para o cenário antes desta jogada: Lula, condenado em segunda instância, foi retirado do pleito e, por baixo dos panos, costurava a candidatura do PT. Bolsonaro, que resolvera seu problema de filiação partidária, procurava tornar seu pleito atrativo para setores da sociedade civil organizada que ainda não veem nele uma alternativa válida. Alckmin, o último dos nomes que, até agora, pode ser levado a sério, também luta por firmar seu nome, o que envolvia resolver rebeliões internas no próprio partido. Todos estes fatores se tornaram irrelevantes naquela sexta-feira.
Repare, caro leitor, um fator comum nestas três candidaturas: nenhuma delas se apresenta como herdeira de um quarto jogador: o governo atual, visto como repelente de votos, apesar de ter conseguido feitos importantes como a reforma trabalhista e o teto de gastos. A continuação deste impasse político poderia beneficiar ou não os pré-candidatos atuais, porém era totalmente prejudicial para Temer.
Estas considerações podem fazer parecer que a intervenção foi declarada apenas com propósitos políticos, o que não é verdade. A questão é que não se pode esperar que uma decisão do governo, evidentemente composto por políticos, não seja política, sendo necessário conferir se ela é boa para a população. Uma pesquisa do Ibope divulgada na sexta-feira (23), mostra que a imensa maioria da população do estado (84%) aprova a ação do Estado. Para o Rio, portanto, é melhor que a interferência ocorra, ainda que política, do que não aconteça.
Voltemos ao panorama político. O movimento do presidente, como um terremoto, alterou o terreno e lembrou aos outros jogadores de sua existência. A esquerda petista e Bolsonaro ficaram atordoados, sem saber como reagir, este último, acusou Temer de roubar seu discurso. Alckmin, por sua vez, foi cauteloso e não rejeitou a ideia por completo, alegando que ela é “drástica, mas necessária”.
A pergunta que um leitor mais sagaz deve se fazer é: se a intervenção atende a uma agenda política, que agenda será essa? O próprio Temer já anunciou, várias vezes, que não pretende ser candidato a reeleição, a única hipótese que, a princípio, faz sentido. Acontece que a política não é feita de instantes fotográficos e sim uma disputa acirrada pelo acúmulo de poder, um capital político que pode ser utilizado de várias maneiras, ainda mais em ano eleitoral. Seu principal problema, neste momento, é a construção de uma candidatura viável que aceite carregar o manto de herdeira do governo, com todos os pontos negativos e positivos que isto atraia - que incluem o tempo de TV do partido e a imensa máquina estatal. Lula e Bolsonaro - cada um por seus motivos - jamais aceitariam este papel, que foi oferecido ao presidente tucano, que, fazendo valer sua posição, se mantém distante.
Temer sabe que seu nome está desgastado e, não importa quais resultados positivos apresente, jamais será um candidato viável à própria sucessão, ainda mais considerando que, em uma hipotética vitória, voltaria a pautar as reformas interrompidas, o que lhe atrai o antagonismo de setores influentes da sociedade organizada, como os sindicatos, e membros do poder judiciário. Sua estratégia mais viável, portanto, é tornar o governo um ativo importante ao ponto de que seja uma má ideia não tê-lo como aliado. Outro indício de que isto está acontecendo nos bastidores é o ressurgimento do ministro da Fazenda, que ainda cogita ser cabeça-de- chapa, mesmo concorrendo com o atual patrão.
Que vantagens teria o presidente com isso? Ainda é cedo para fazer uma afirmação mais concreta. O máximo que pode-se inferir é que a decisão tenha a ver com o foro especial por prerrogativa de função. Findado seu governo, por motivos óbvios, Temer estará desprotegido e procuraria abrigo em um substituto que lhe seja simpático. E todos sabemos que isso só ocorrerá se ele eleger o próprio sucessor.
Amanda Sindmann
Escreve histórias sobre outros assuntos em um
blog amandasindmann.tumblr.com, mas jura que só acompanha política por diversão.
Opinião manifestada nesta matéria é de exclusiva responsabilidade da autora.
4 comentários:
Lúcido texto, o que Amanda diz faz sentido.
Vamos acompanhar os próximos episódios da saga de Temer.
Caríssima, seria presunçoso de nossa parte dizer que sabemos exatamente o que provocou o start desta Intervenção na Segurança do Estado brasileiro que mais mata policial, que mais morrem crianças, adolescentes, negros brancos azuis e anis.
Agarremo-nos no princípio, que pior que a ação, seja a inação; se olharmos por este prisma essa Intervenção se mostrou necessária e contundente. Mas, como "há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia"... William Shakespeare, suas deduções que existe muita expertise política, fazem sentido.
Este presidente, diga-se de passagem, que como não votamos na estoca vento, não fomos nós que o elegemos, tem mostrado que sabe como ninguém articular, negociar (embora para uns desentendidos, usar as verbas e cargos disponíveis seja roubo), arquitetar e jogar o jogo sujo desta política imunda.
O custo desta operação comboio, pois tem nela embutidas muitas variáveis, é a não execução da Reforma da Previdência necessária, e o mercado já sinalizou que quem vai pagar esse preço seremos nós quem realmente trabalhamos e produzimos.
Acho q o foro não é mais a questão, isso o maquiavelismo de última instância está dando um jeitinho, sob o galope da presunção, a fundo perdido,da inocência. Agora é evidente que o peão quer atravessar o tabuleiro e se tornar rainha. Capital político, e portanto, não eleger seu sucessor, mas o sucessor quere-lo no inevitável segundo turno.
O CATEGORIA PARA TER CORNO É DIRIGENTE DE FUNDO DE PENSÃO.
É TANTO CHIFRE QUE TEM QUE TER PORTAS DE PALÁCIOS
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