Quando o Cristo Redentor e o Palácio do Planalto se acendem à noite com as cores da bandeira francesa, e Paris domina os noticiários, muitos brasileiros perguntam: e Mariana? A ruptura de duas barragens no estado de Minas Gerais há 11 dias provocou um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil, mas quem olhasse ontem para as bancas de jornais ou assistisse ao telejornal da Globonews no domingo à noite não iria encontrar nada sobre o assunto. Uma frase tornou-se popular no Facebook brasileiro: “Minha foto do perfil não tem cores da bandeira de França devido a lama de Minas Gerais”.
Tratada inicialmente como uma tragédia de impacto meramente local, que soterrou uma comunidade rual de 600 habitante, Bento Rodrigues, a enxurrada de lama, resíduos de minérios e químicos - com volume de lama equivalente a 25 mil piscinas olímpicas - segue o seu percurso lento, mas contínuo, no Rio Doce, a quinta maior bacia hidrográfica do Brasil que foi considerada morta oficialmente por ambientalistas e biólogos.
Poucos prestaram real atenção ao que estava a acontecer, antes da mancha de lama alastrar a centenas de quilômetros e antes dos vídeos de peixes morrendo numa sopa de lama e detritos circularem nas redes sociais. Boa parte da imprensa demorou em reagir e enviar repórteres para a região.
A empresa mineira que administrava as duas barragens de Mariana, utilizadas para depositar os resíduos produzidos no tratamento e limpeza do minério de fero, não ofereceu muitas explicações sobre as rupturas, apesar dos indícios de negligência, como a inexistência de um sistema de alerta das populações próximas das barragens, divulgadas na imprensa.
Os políticos locais e regionais relativizaram inicialmente o sucedido, escudando-se de apontar responsabilidades à empresa mineradora Samarco, que chegou a ser classificada como uma "vítima" do acidente por um representante do governo de Minas Gerais.
A presidente Dilma Rousseff limitou-se a fazer algumas declarações de solidariedade e apoio no Twitter um dia depois da ruptura das barragens e foi cumprindo a sua agenda habitual em Brasília. Depois das críticas se avolumarem, Dilma visitou a região afetada na quinta-feira, uma semana depois da ruptura das barragens, mas apenas sobrevoou de helicóptero. Não se encontrou com as vítimas mais diretamente atingidas pelo desastre.
"Foi muito ruim ela não ter descido", diz ao jornal português Público, Alexandra Sandra Maranho, moradora de Mariana e coordenadora do Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB) em Minas Gerais, uma organização histórica de gênese popular destinada a representar e defender os direitos das populações adjacentes a barragens. "Ela deveria ter visitado famílias" desalojadas pela inundação de lama, "deveria ter mostrado esse lado humano", diz por telefone.
O MAB opera como porta-voz e negociador popular junto do poder político e das empresas mineiras. "Esses processos são muito delicados, porque deixam uma comunidade pobre diante de uma empresa muito poderosa. A empresa procura sempre negociar com as famílias separadamente. O que a gente cobra do governo federal e estadual é que cuidem para que esses processos sejam coletivamente, com a participação das famílias, e que não apliquem uma "receita pronta", explica Alexandra Maranho. "A empresa tem muita pressa em fazer as coisas. Quer logo resolver tudo para dizer que fez".
Alexandra Sandra Maranho encontrou-se com a Dilma em Belo Horizonte, na quinta-feira de manhã para apresentar preocupações e necessidades das 183 famílias, num total de 631 pessoas, que estão realojadas em hotéis e pousadas de Mariana. Elas querem que a Samarco garanta o seu realojamento provisório, uma renda mensal e apresente um plano para reconstruir e manter a comunidade agregada. A Samarco tem feito propostas individuais de realojamento, "mas não tem uma metodologia de agrupamento", no sentido de manter a comunidade unida. "Não tem como reconstruir a comunidade de Bento Rodrigues naquele lugar", diz.
Na manhã da sua visita a Minas Gerais, Dilma Rousseff disse ter presenciado "talvez a maior desastre ambiental que afetou grandes regiões no país" e anunciou a aplicação de uma multa à Samarco no valor de R$ 250 milhões (equivalente a $ 60,8 milhões de euros).
Reprodução fiel da publicação do jornal Público .
Nota do blog:
Os especialistas estimam o total do prejuízo humano e ambiental em R$ 14 bilhões e levará dezenas de anos para a recuperação total do meio ambiente. À essa altura, a multa aplicada à Samarco de R$ 250 milhões parece um pingo d'água no oceano.
Enquanto, o governo e a imprensa brasileira se preocupam mais com a tragédia de Paris, novamente, o jornal português Público faz crítica contundente à presidente Dilma e chama atenção ao descaso da imprensa brasileira. A imprensa brasileira se cala, novamente, porque o governo federal e a própria Vale, acionistas da Samarco, são maiores anunciantes dos veículos de comunicação.
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Je Suis Mariana!
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Ossami Sakamori
nas Gerais, Dilma Rousseff disse ter presenciado “talvez o maior desastre ambiental que afectou grandes regiões no país" e anunciou a aplicação de uma multa à Samarco no valor de 250 milhões de reais (60,8 milhões de euros).
5 comentários:
É mais fácil ela cobrar 250 milhões da Samarco, e o restante ela tira da solidariedade, é mais fácil extorquir a população... Deprimente
Mais uma janela para justificar que o governo precisa da colaboração do povo.Esse governo aproveita qualquer coisa para tomar dinheiro do povo trabalhador,nunca dos grandes empresários e grupos financeiros.
E a maioria dessa cidade votou na Dilma. Imaginem se não tivessem votado!
Podem pesquisar!
Há muito me dei conta que... brasileiro só se comove com as catástrofes de outros países. Não vi nenhuma foto de perfil retratando a catástrofe de Mariana, alguém viu?
Ultimamente a cor da lama faz parte da Bandeira do Brasil. Fora os desastres que nos atingem, tem muita gente limpando o chão com ela vergonhosamente.
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