segunda-feira, 20 de agosto de 2018

O Brasil é país dos "emergentes".



Há um equívoco na maneira de pensar dos formuladores da política econômica, sobretudo, dos presidenciáveis. Tenho observado que uma grande parcela dos articulistas econômicos, também, defendem o crescimento econômico baseado exclusivamente no consumo da população.  Na minha visão, o principal foco da política econômica deveria ser o aumento da renda da população mediante criação de "novos empregos" no setor industrial.  

O Brasil patina porque isto é um círculo vicioso, sem fim, a defesa do crescimento econômico País baseado tão somente no "consumo" da população.  O Brasil está com 65 milhões de pessoas na situação de desempregados, desalentados e subempregados, enquanto apenas 34 milhões de trabalhadores estão na formalidade, isto é, com carteira assinada.  Deveria saltar aos olhos de qualquer responsável pela formulação da política econômica de que a política econômica baseado apenas em consumo é um círculo vicioso, um espiral sem fim, ao inverso.  Brasil está definhando há algum tempo, pelo equívoco da política econômica. 

O exemplo da política econômica acertada vem dos países desenvolvidos como Japão e Alemanha que deram prioridade ao desenvolvimento tecnológico ou  ao seu parque industrial, sobretudo, após o fim da Segunda Guerra Mundial (1945). Enquanto os países destruídos pela nefasta e insensata guerra, aqueles países foram à luta, colocando-os na terceira e quarta posição do PIB mundial. Enquanto isto, o Brasil ficou parado no tempo.  Hoje, ainda, o País continua sendo exportador de produtos primários como grãos e minérios. Do século passado para este, o País só mudou o produto exportado, de café passou para grãos e minérios. 

Os países emergentes como a China, Rússia e Índia foram à luta para conquistar posições de destaques no comércio mundial.  Especialmente, a China e a Índia crescem a uma média anual acima de 6% ao ano. A China já colocou o Japão na terceira colocação em PIB.  Não tardará que a Índia venha ocupar a posição de 8ª economia do mundo, ultrapassando a posição do Brasil. 

O crescimento vertiginoso dos países emergentes deveu-se sobretudo às exportações de serviços e produtos industrializados. Não! Não foi devido à exportação de produtos primários. Esses países cresceram acima da média mundial baseados em exportação de tecnologia e produtos agregados. É mais do que certo que o crescimento dos tais países emergentes, não se deveu ao consumo do mercado interno.  O consumo, para aqueles países, não está sendo meio para o crescimento econômico, mas como resultado.

O governo Lula da Silva priorizou o consumo interno, basicamente, por três viés:  O dólar baixo ou o real valorizado foi a alavanca para aparecimento de classes emergentes; o crédito fácil através de "créditos consignados" movimentou o mercado de consumo e o terceiro fator foi alavancado pela alta do mercado de produtos primários como grãos e minérios no mercado internacional. Este cenário, para o azar do Brasil, parece estar a mudar.  

Não adianta reclamar que os chineses são exploradores do povo brasileiro. Em passado não tão remoto, os exploradores dos "coitadinhos" brasileiros eram os americanos.  O motivo é que Brasil esqueceu de fazer o dever da casa.  Os presidentes brasileiros sempre deram prioridade ao mercado de consumo interno.  Os indicadores mostram claramente esta opção.  A participação da indústria na formação do PIB decresceu de 26% do PIB em 2002 para menos de 12% do PIB.  Tecnologicamente, Brasil regrediu aos olhos vistos. 

Sem a indústria brasileira, conquistando o mercado mundial, com o dólar alto ou o real desvalorizado não chegaremos nunca ao nível de crescimento econômico dos países desenvolvidos e nem ao nível de crescimento dos países emergentes.  Cada país elege sua prioridade. Enquanto os outros escolheram ao desenvolvimento tecnológico, o Brasil continua priorizando o "consumo".  E assim chegamos onde chegamos, a pior depressão dos últimos 100 anos!

O mercado de consumo é "ópio" do povo.  O consumo inebria o povo brasileiro. Dentro do contexto, o consumo de produtos estrangeiros são valorizados.  Os "emergentes" brasileiros se orgulham de comprar produtos asiáticos em Nova York ou gastar o dólar baixo (real valorizado) em Paris ou outros destinos preparados para acolher os otários "emergentes" brasileiros. 

O novo presidente da República (2019/2022) deverá priorizar não só os investimentos em infraestrutura, mas sobretudo criar "ambiente" propícios para investimentos em fábricas. O aumento de poder de compra terá que vir necessariamente dos trabalhadores com carteira assinada. E fim do papo! Só assim, o Brasil criará o mercado de consumo robusto, independente de diversos artifícios no mercado de consumo.  

O Brasil não é um país emergente, mas o Brasil é país dos emergentes!

Ossami Sakamori
Engenheiro civil, 74, foi professor da UFPR e consultor empresarial. 

3 comentários:

Ivan Figueiredo disse...

Muito boa análise Professor Sakamori.
Gostaria de sua opinião sobre os históricos dispositivos do nosso sistema econômico e financeiro que na realidade é o mais imoral programa de transferência de renda e riquezas do povo pobre para muitas castas de uma elite beneficiada e cheia de benefícios ...
Rico no Brasil quando paga impostos recebe de volta de alguma forma, já o resto é massa de manobra e de exploração ...
Não tenho nada contra ser rico, até porque faço parte de uma classe abastarda, mas, para exemplificar cito um dispositivo que me deixa perplexo: a Previdência gasta quase o mesmo para pagar 30 milhões de pensionista civis que para pagar apenas 1 milhão do setor público ... sem falar em outros programas de empréstimos milionários com juros e perdões subsidiados enquanto a massa de consumo paga juros bancários em torno de 200% as...

OssamiSakamori.blogspot disse...

Prezado Ivan Figueiredo,

Tenho feito crítica sistemática sobre a transferência de renda para os agiotas nacionais e internacionais, via juros reais que incide sobre dívida pública federal, Selic. Tenho feito isto, até com dogma deste blog.

Também, há inúmeras matérias que trata dos juros subsidiados às empresas, supostos players, amigos do Palácio do Planalto. Isto é transferência de renda da população, maioria pobre, para meia dúzia de pessoas e famílias.

O setor industrial é visto, equivocadamente, como os vilões da economia. Pelo contrário, é o setor industrial que cria empregos com carteira assinada, em sua maioria. Espanta-me o encolhimento da participação do setor industrial na formação do PIB, que de 26% em 2002, passou para menos de 12% nos dias atuais.

Obrigado, pela participação!

Ivan Figueiredo disse...

Obrigado professor .
Vou ler demais matérias indicadas .
Sim, sempre percebi as posições e explicações econômicas deste blog e agradeço por lembrar.
Não aponto setor indústria ou qualquer outro produtivo como vilão, pelo contrário .... Afora o que já falamos aqui hoje há também a concentração de renda e a falta do poder de compra dos salários baixos como vilões em minar a democracia e o bom capitalismo .
Abraço e obrigado ..