segunda-feira, 20 de maio de 2019

Carta renúncia do presidente Jânio Quadros.


Jânio Quadros renunciou no dia 25 de agosto de 1961. Foi eleito por uma votação expressiva, na eleição presidencial de 1960, com promessas conservadoras como acabar com a "briga de galo" e o "uso de biquíni". Como grande legado foi tornar efetivo o funcionamento da Sumoc - Superintendência da Moeda e Crédito, em 13/3/1961, tornando efetivo o controle monetário no País. A Sumoc veio ser substituído pelo Banco Central em 31/12/1964. O fato é que o presidente Jânio Quadros não acabou com a briga de galo e nem tão pouco o uso de biquíni pelas mulheres brasileiras. Jânio Quadros renunciou ao cargo de presidente da República. Eis, a carta renúncia: 

"Fui vencido pela reação e assim deixo o governo.  Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo. 

"Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração".

"Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública".

"Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia".

"Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um".

"Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria."

Brasília, 25 de agosto de 1961.

Muitos brasileiros ocuparam o cargo máximo da República, muitos deles se diziam os "salvadores da pátria". Militares ou civis, estes políticos, confundiram o desejo pessoal com o projeto para a Nação. O País carrega na sua história recente, tragédias que não podem, nunca mais se repetir: um presidente se suicidou, dois presidentes afastados pelo processos de impeachment e um ex-presidente preso por crime de corrupção. 

O Brasil é de todos nós!

Ossami Sakamori

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