Hoje, dia 31 de março, não tenho motivo nenhum para comemorar o dia da Revolução ou dia do golpe Militar de 64. Naquele ano, 1964, eu estava recém matriculado na Escola de Engenharia da Universidade Federal do Paraná, resultado do acirrado vestibular de uma universidade pública. Eu me lembro que no dia 31 de março, havia notícia de que as tropas do Exército, com tanques, estavam à caminho à região Sul. Senti aliviado quando soubemos que o comandante da V Região Militar tinha aderido ao movimento. Ficamos sabendo depois que tinha havido um "golpe militar". Enfim, para alívio da população, não haveria matanças entre os soldados compatriotas.
O que seguiu, ao dia 31 de março de 1964, a história brasileira mostra como sendo de "regime militar". A verdade é doida, mas tem que ser dita. Brasil entrava na "ditadura militar". Como eu era de família humilde, não me engajei no movimento estudantil que opôs ao regime militar, porque eu precisava gerar o meu próprio sustento. Muitos amigos meus foram presos, pela DOPS - Delegacia de Ordem Social e Política, sem nenhum mandato judicial e foram levados para porões do Exército. Estávamos inaugurando o regime de exceção. Já no final do meu curso de engenharia, foi decretado o Ato Institucional número 5, que abolia os direitos individuais de um cidadão brasileiro comum. Fui testemunha à favor de um colega de faculdade, na "Justiça Militar", para atestar que ele era cidadão do bem. Os civis "contra o regime" eram julgados na Justiça Militar.
Enfim, os militares podem comemorar o dia de hoje como dia de libertação do povo, do comunismo que se estava a ser instalado no Brasil. Preocupado que eu estava em conseguir um espaço no mercado de trabalho, tive muito pouco tempo para estudar a ideologia dos à favor e dos contra o Regime Militar. Os que foram militantes contra o Regime Militar eram universitários, via de regra, filhos de classe média alta, pois estes, tinham o sustento das respectivas famílias para suas guerrilhas particulares. Entre estes, a ex-presidente Dilma Rousseff e seu companheiro Cláudio, de famílias abastadas.
À duras penas e com a iniciativa do General Geisel foi feito à abertura gradual e segura do Regime Militar para os civis. O General Figueiredo cumpriu a missão e promoveu eleição indireta para presidência da República, no que foi eleito o deputado Tancredo Neves, tendo como vice-presidente o então deputado José Sarney. Em razão do falecimento prematuro do Tancredo Neves, assume como o primeiro presidente civil, o José Sarney. José Sarney e Ulysses Guimarães costuraram a Constituição de 1988, em vigor até hoje.
Respeito o presidente Jair Bolsonaro, eleito legitimamente, através de eleições, previstos na Constituição de 1988, em 2018, numa disputa acirrada com o candidato do Partido dos Trabalhadores. Porém, não concordo com os últimos movimentos, com aparente interferência indevida no Alto Comando das Forças Armadas, subjugando-o, além daquilo já previsto na Constituição de 1988. Uma parte da população apoia a interferência dos militares na vida da população, invocando o Artigo 142 da Constituição, num fragrante erro de interpretação. Uma outra parte da população, sobretudo os intelectuais, não apoiam a ideia do Presidente da República, de que o Comando das Forças Armadas sirvam aos interesse do Governo, contrário à ideia de que as Forças Armadas deveriam servir ao Estado. A primeira ideia leva à politização das Forças Armadas, que é meio caminho andado para volta do Regime Militar. Eu aposto que, os que os protagonistas de hoje, da ideia de volta do Regime Militar, não tenham vivido experiências nefastas do poder pelos militares, como eu tive. Creio que, nem os militares, de baixo a alta patente, não querem a volta do Regime Militar no País.
Ossami Sakamori
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