Esta matéria não visa alcançar os economistas e nem tão pouco os articulistas econômicos. Há um equívoco, um cacoete de analistas econômicos brasileiros analisarem a remuneração dos juros do Tesouro Nacional brasileiro, a taxa Selic, como se o Brasil fosse um país do primeiro mundo, sem nenhum problema estrutural na área econômica e financeira. Há muitos anos luzes que separam o Brasil dos países do primeiro mundo.
O Brasil está longe de ser um país desenvolvido. O Brasil não passa de um país emergente posando de um país em desenvolvimento. O setor industrial do País responde por apenas 12% do PIB. O Brasil é um país que, como nos tempos da colônia, dependente da receita de produtos primários como da agricultura e da mineração para pagar as importações. O Brasil de hoje pouco mudou em relação ao Brasil colônia do século passado. Brasil, tanto quanto a América Latina e a África não acompanharam o desenvolvimento do restante do mundo. A China e países asiáticos acordaram para a nova realidade, há algum tempo, e já ocupam lugares de destaque no comércio mundial. Brasil vende produtos primários e compra produtos industrializados, como nos tempos da colônia.
O Brasil é considerado ainda um país emergente ou país do terceiro mundo. Isto tem o preço a pagar. O Brasil é avaliado pelas agências de classificação como de "risco moderado" para uma eventual calote. Os bancos internacionais e fundos de investimentos estrangeiros exigem o pagamento de juros Selic maior do que a inflação IPCA. Isto é, exigem ágio! Pelos gráficos apresentados no topo desta página, podemos ver que os juros Selic é cerca de 2% acima da inflação. Não é atoa que o Tesouro Nacional paga juros Selic maior do que a inflação. Brasil, ainda, é visto como um possível "caloteiro", tal qual Grécia ou Turquia.
O reflexo do "ágio" acima da inflação calculado sobre o volume total da dívida do Brasil, de cerca de R$ 5,5 trilhões, corresponde grosso modo a R$ 110 bilhões de acréscimo real à dívida pública, já que o Brasil não paga o capital emprestado há muito tempo. Digamos que o Brasil entrou num beco sem saída. Brasil já deve 2/3 de tudo que produz no ano.
A situação fiscal do Brasil é explosiva porque o País nem sequer consegue pagar as despesas correntes do governo federal, mesmo antes do pagamento de juros. Esta conta se chama "déficit primário". O "déficit primário", o dinheiro que falta para pagar as contas" é previsto para este ano em cerca de R$ 130 bilhões, sem considerar o pagamento de juros da dívida pública federal. O "déficit nominal", o total de dinheiro que falta é de cerca de R$ 240 bilhões, nesta conta.
O governo presente e futuro vangloriam-se pelo juros Selic de 6,5% ao ano, como se fossem os mais baixos do mundo. Em termos de mercado financeiro internacional, 2% líquidos ao ano são juros de "agiotas". Nas matérias anteriores, faço referências aos investidores financeiros nacionais e internacionais de "agiotas", exceptuando os investidores que aplicam em sistema produtivo. O governo brasileiro pega dinheiro dos "agiotas nacionais e internacionais" para manter o País à tona até que apareça uma solução estrutural duradoura.
Com certeza, não será através de uma vaga teoria liberal pregado pelo futuro ministro da Economia Paulo Guedes, que tirará o País do atoleiro que se meteu. A única saída para o Brasil, no meu entender, é crescer sustentavelmente a uma taxa possível de 6% ao ano, para dispender cada vez menos o dinheiro do Orçamento Fiscal para pagamento de juros aos agiotas nacionais e internacionais.
Brasil precisa gerar, urgentemente, "superávit fiscal" para investir em infraestrutura, além de prover serviços de educação, saúde e segurança pública. Isto será um desafio ao presidente Bolsonaro que não tem familiaridade com os assuntos da área econômica. Como sempre, a maioria dos indicados nas áreas econômica são pessoas que no seu "dia a dia", de alguma forma, estão ligados aos "agiotas nacionais e internacionais".
Para que lado irá o Paulo Guedes?
Ossami Sakamori
2 comentários:
A resposta pode valer um milhão de dólares...
Exatamente, Sr Sakamori. Nunca aparece um Economista, como Ministro, capaz de enfrentar os interesses dos agiotas nacionais e internacionais. desse jeito o Brasil entrará em colapso. A inadimplência cresce assustadoramente e o comércio aguça os cidadãos a comprar mais.....Já pagamos umas das mais altas taxas de juros mas com o desemprego, caem a arrecadação dos impostos e se não pagarmos os juros dos juros da dívida...estamos ferrados. FMI?
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