sábado, 8 de dezembro de 2018

Para que lado irá o Paulo Guedes?



Esta matéria não visa alcançar os economistas e nem tão pouco os articulistas econômicos.  Há um equívoco, um cacoete de analistas econômicos brasileiros analisarem a remuneração dos juros do Tesouro Nacional brasileiro, a taxa Selic, como se o Brasil fosse um país do primeiro mundo, sem nenhum problema estrutural na área econômica e financeira.  Há muitos anos luzes que separam o Brasil dos países do primeiro mundo. 

O Brasil está longe de ser um país desenvolvido.  O Brasil não passa de um país emergente posando de um país em desenvolvimento.  O setor industrial do País responde por apenas 12% do PIB.  O Brasil é um país que, como nos tempos da colônia, dependente da receita de produtos primários como da agricultura e da mineração para pagar as importações.  O Brasil de hoje pouco mudou em relação ao Brasil colônia do século passado.  Brasil, tanto quanto a América Latina e a África não acompanharam o desenvolvimento do restante do mundo.  A China e países asiáticos acordaram para a nova realidade, há algum tempo, e já ocupam lugares de destaque no comércio mundial.  Brasil vende produtos primários e compra produtos industrializados, como nos tempos da colônia.   

O Brasil é considerado ainda um país emergente ou país do terceiro mundo.  Isto tem o preço a pagar. O Brasil é avaliado pelas agências de classificação como de "risco moderado" para uma eventual calote.  Os bancos internacionais e fundos de investimentos estrangeiros exigem o pagamento de juros Selic maior do que a inflação IPCA. Isto é, exigem ágio!  Pelos gráficos apresentados no topo desta página, podemos ver que os juros Selic é cerca de 2% acima da inflação.  Não é atoa que o Tesouro Nacional paga juros Selic maior do que a inflação.  Brasil, ainda, é visto como um possível "caloteiro", tal qual Grécia ou Turquia. 

O reflexo do "ágio" acima da inflação calculado sobre o volume total da dívida  do Brasil, de cerca de R$ 5,5 trilhões, corresponde grosso modo a R$ 110 bilhões de acréscimo real à dívida pública, já que o Brasil não paga o capital emprestado há muito tempo.  Digamos que o Brasil entrou num  beco sem saída.  Brasil já deve 2/3 de tudo que produz no ano.  

A situação fiscal do Brasil é explosiva porque o País nem sequer consegue pagar as despesas correntes do governo federal, mesmo antes do pagamento de juros.  Esta conta se chama "déficit primário".  O "déficit primário", o dinheiro que falta para pagar as contas" é previsto para este ano em cerca de R$ 130 bilhões, sem considerar o pagamento de juros da dívida pública federal.  O "déficit nominal", o total de dinheiro que falta é de cerca de R$ 240 bilhões, nesta conta.

O governo presente e futuro vangloriam-se pelo juros Selic de 6,5% ao ano, como se fossem os mais baixos do mundo.  Em termos de mercado financeiro internacional, 2% líquidos ao ano são juros de "agiotas".  Nas matérias anteriores, faço referências aos investidores financeiros nacionais e internacionais de "agiotas", exceptuando os investidores que aplicam em sistema produtivo. O governo brasileiro pega dinheiro dos "agiotas nacionais e internacionais" para manter o País à tona até que apareça uma solução estrutural duradoura.  

Com certeza, não será através de uma vaga teoria liberal pregado pelo futuro ministro da Economia Paulo Guedes, que tirará o País do atoleiro que se meteu.  A única saída para o Brasil, no meu entender, é crescer sustentavelmente a uma taxa possível de 6% ao ano, para dispender cada vez menos o dinheiro do Orçamento Fiscal para pagamento de juros aos agiotas nacionais e internacionais.  

Brasil precisa gerar, urgentemente, "superávit fiscal" para investir em infraestrutura, além de prover serviços de educação, saúde e segurança pública.  Isto será um desafio ao presidente Bolsonaro que não tem familiaridade com os assuntos da área econômica.  Como sempre, a maioria dos indicados nas áreas econômica são pessoas que no seu "dia a dia", de alguma forma, estão ligados aos "agiotas nacionais e internacionais".  

Para que lado irá o Paulo Guedes?

Ossami Sakamori

2 comentários:

Oledir Silva disse...

A resposta pode valer um milhão de dólares...

daniel camilo do rosario disse...

Exatamente, Sr Sakamori. Nunca aparece um Economista, como Ministro, capaz de enfrentar os interesses dos agiotas nacionais e internacionais. desse jeito o Brasil entrará em colapso. A inadimplência cresce assustadoramente e o comércio aguça os cidadãos a comprar mais.....Já pagamos umas das mais altas taxas de juros mas com o desemprego, caem a arrecadação dos impostos e se não pagarmos os juros dos juros da dívida...estamos ferrados. FMI?