Quem estava em atividade empresarial em 2008, sabe da extensão do problema que originou da quebra do Lehman Brothers, banco hipotecário americano. O banco americano quebrou em decorrência da inadimplência dos tomadores de empréstimos da compra de imóveis residenciais, que viu os valores das prestações ficarem proporcionalmente altos a suas rendas, rapidamente. O Tesouro americano decidiu não interferir no sistema financeiro e deixou que o Lehman Brothers entrasse em falência. Isto deu início à crise financeira mundial, em 2008, provocando efeito cascata em outros setores da economia, além de disseminar a crise financeira no mundo todo.
O efeito da crise hipotecária que deu início nos Estados Unidos em 2008, pegou o Brasil de surpresa, também. O presidente do Banco Central do Brasil, à época, Henrique Meirelles, ex-presidente mundial e do Brasil do Bank of Boston, tomou medidas para o enfrentamento da crise que se alastrava no mundo, injetando à época, de outubro de 2008 a agosto de 2009, pouco mais de R$ 213 bilhões no sistema financeiro para manter a economia em funcionando. O valor corrigido para hoje, equivaleria, grosso modo, a cerca de R$ 400 bilhões, injetado na economia. Isto foi o dispêndio do Tesouro Nacional, aumentando o endividamento do País em valor equivalente, além de conceder série de subsídios que se tornaram permanentes.
Há pouco menos de um mês, houve inadimplência gigantesca de uma construtora e incorporadora chinesa, a Evergrande, atolada em dívidas de mais de US$ 300 bilhões, equivalente a R$1,65 trilhão, na cotação da última sexta-feira. Assim como aconteceu nos Estados Unidos em 2008, o governo chinês não socorreu o grupo empresarial e deixou que o mercado financeiro absorvesse o prejuízo. Acontece que na China, há outras empresas imobiliárias gigantescas na mesma situação da gigante Evergrande, ou seja, com endividamento alto e sem perspectiva de socorro por parte do governo chinês. O efeito da crise imobiliária chinesa é visível. Devido a crise hipotecária, a China vai crescer menos neste e no próximo ano. Diante da situação, é previsível que a China vai comprar menos commodities, sobretudo soja e minério de ferro. Isto é muito ruim para agronegócio brasileiro, sobretudo.
O Brasil, como sempre, parece querer ignorar o que acontece no mundo, apesar de extremamente dependente das exportações do agronegócio brasileiro. Hoje, o agronegócio representa, segundo Cepea/Esalq/USP, cerca de R$ 2,273 trilhões ou grosso modo, próximo de 30% do PIB. O maior comprador dos produtos agropecuário, a China, demandando menos produtos, haverá reflexo nos próximos meses no agronegocio brasileiro. Quanto isto vai representar para o País, só o desdobramento do efeito da "bolha imobiliária" na China poderá nos dizer.
Com economia globalizada, o estouro da bolha imobiliária na China vai refletir, também, no mercado imobiliário brasileiro. O mercado financeiro vai ficar de olho no mercado de imóveis, sobretudo aqueles destinados à classe média. Os de alto valor, terão sempre clientela que investem em imóveis para proteção da desvalorização do real e para fins de lavagem de capitais. A crise imobiliária no País, também, será uma realidade.
O mais triste desta história dramática, é que o ministro Paulo Guedes da Economia, não parece preocupar com o reflexo do efeito Evergrande da China. Nenhuma medida, parece estar o horizonte. Sem querer usar da maldade, o dinheiro dele, Guedes, está protegido no paraíso fiscal.
Ossami Sakamori
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