domingo, 17 de outubro de 2021

Efeito Evergrande será devastador no Brasil

 

Quem estava em atividade empresarial em 2008, sabe da extensão do problema que originou da quebra do Lehman Brothers, banco hipotecário americano.  O banco americano quebrou em decorrência da inadimplência dos tomadores de empréstimos da compra de imóveis residenciais, que viu os valores das prestações ficarem proporcionalmente altos a suas rendas, rapidamente.  O Tesouro americano decidiu não interferir no sistema financeiro e deixou que o Lehman Brothers entrasse em falência.  Isto deu início à crise financeira mundial, em 2008, provocando efeito cascata em outros setores da economia, além de disseminar a crise financeira no mundo todo.  

           O efeito da crise hipotecária que deu início nos Estados Unidos em 2008, pegou o Brasil de surpresa, também.  O presidente do Banco Central do Brasil, à época, Henrique Meirelles, ex-presidente mundial e do Brasil do Bank of Boston, tomou medidas para o enfrentamento da crise que se alastrava no mundo, injetando à época, de outubro de 2008 a agosto de 2009, pouco mais de R$ 213 bilhões no sistema financeiro para manter a economia em funcionando.  O valor corrigido para hoje, equivaleria, grosso modo, a cerca de R$ 400 bilhões, injetado na economia.  Isto foi o dispêndio do Tesouro Nacional, aumentando o endividamento do País em valor equivalente, além de conceder série de subsídios que se tornaram permanentes. 

           Há pouco menos de um mês, houve inadimplência gigantesca de uma construtora e incorporadora chinesa, a Evergrande, atolada em dívidas de mais de US$ 300 bilhões, equivalente a R$1,65 trilhão, na cotação da última sexta-feira.  Assim como aconteceu nos Estados Unidos em 2008, o governo chinês não socorreu o grupo empresarial e deixou que o mercado financeiro absorvesse o prejuízo.  Acontece que na China, há outras empresas imobiliárias gigantescas na mesma situação da gigante Evergrande, ou seja, com endividamento alto e sem perspectiva de socorro por parte do governo chinês.   O efeito da crise imobiliária chinesa é visível.  Devido a crise hipotecária, a China vai crescer menos neste e no próximo ano.  Diante da situação, é previsível que a China vai comprar menos commodities, sobretudo soja e minério de ferro.  Isto é muito ruim para agronegócio brasileiro, sobretudo.

          O Brasil, como sempre, parece querer ignorar o que acontece no mundo, apesar de extremamente dependente das exportações do agronegócio brasileiro.  Hoje, o agronegócio representa, segundo Cepea/Esalq/USP, cerca de R$ 2,273 trilhões ou grosso modo, próximo de 30% do PIB.  O maior comprador dos produtos agropecuário, a China, demandando menos produtos, haverá reflexo nos próximos meses no agronegocio brasileiro.  Quanto isto vai representar para o País, só o desdobramento do efeito da "bolha imobiliária" na China poderá nos dizer.  

          Com economia globalizada, o estouro da bolha imobiliária na China vai refletir, também, no mercado imobiliário brasileiro.  O mercado financeiro vai ficar de olho no mercado de imóveis, sobretudo aqueles destinados à classe média.  Os de alto valor, terão sempre clientela que investem em imóveis para proteção da desvalorização do real e para fins de lavagem de capitais.  A crise imobiliária no País, também, será uma realidade.

           O mais triste desta história dramática, é que o ministro Paulo Guedes da Economia, não parece preocupar com o reflexo do efeito Evergrande da China.  Nenhuma medida, parece estar o horizonte. Sem querer usar da maldade, o dinheiro dele, Guedes, está protegido no paraíso fiscal.  

           Ossami Sakamori

 


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