A ocupação do Complexo da Maré demorou menos de 15 minutos com participação da Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal, além da Marinha brasileira. A operação teve participação de 1.180 policiais militares e 132 policiais civis com apoio de 21 blindados da Marinha. Uma cerimônia de hasteamento da bandeira nacional encerrou a tomada do complexo, segundo informou o jornal Folha.
O Complexo da Maré conta com 15 favelas e compõe de 130 mil moradores. O complexo como é denominado era dominado por duas facções criminosas, traficantes de drogas e uma milícia armada. Para quem não tem familiaridade com o termo, a milícia armada é composta pelos integrantes dos policiais militares da ativa e reformados que atuam, clandestinamente, para exploração de comércio clandestino e de todo tipo de serviços.
O conjunto de favelas é delimitado pela Avenida Brasil, entrada da Rodovia Dutra à cidade de Rio Janeiro, por um lado e por outro lado a Linha Vermelha que liga o Aeroporto Tom Jobim ao centro da cidade de Rio de Janeiro. O conjunto, ainda é cortado por Linha Amarela que liga Ilha do Fundão, onde se localiza a UFRJ, à zona oeste da cidade. A descrição geográfica foi feita, exatamente, para mostrar a importância e o tamanho do Complexo da Maré.
Pois, este complexo que, geograficamente, faz parte integrante da cidade de Rio de Janeiro, funciona como enclave dentro da própria, sem a presença efetiva do poder público. Digo e repito, funciona com ausência total do poder público, como um verdadeiro "enclave" dentro da segunda maior cidade do País. É como uma "cité du soleil" do Haiti, localizado dentro do território brasileiro. Para quem não sabe, a cité du soleil é tutelada pelo Exército brasileiro à serviço das Nações Unidas.
Para confirmar a minha afirmação de que o complexo era um "enclave" dentro da cidade de Rio de Janeiro, basta ver que com a "tomada" do Complexo, simbolicamente foi hasteamento da bandeira brasileira, como se aquele território, pela primeira vez fizesse parte do Brasil. Diga-se de passagem, uma verdadeira operação de guerra, para "tomada" do território, antes pertencentes às facções criminosas.
Nem é preciso explicar que este tipo de "enclave" existe por causa da ausência completa do poder público. Comunidade é eufemismo para descrever uma verdadeira cidade dentro da outra maior. É fácil de constatar a ausência de demais serviços públicos essenciais, como unidade de pronto atendimento à saúde pública e também unidades de ensino fundamental, assim como creches para dar suporte às mães trabalhadoras. Além, é claro, da delegacia de polícia.
Não adianta nada a instalação das UPP, simplesmente, com instalações provisórias de delegacias de "latas", abrigados em containers. Seria necessário que construção de delegacias fosse feito em forma definitiva, além das unidades de pronto atendimento de saúde, escolas de ensinos fundamentais, creches para crianças e demais serviços públicos essenciais além das já nominadas.
Diante desta situação da ausência do Estado, tanto municipal, estadual ou federal, as "ocupações" de complexos, seja do Alemão, da Rocinha ou da Maré, cheira interesse político eleitoreiro do que propriamente atendimento efetivo à necessidade da população. A ocupação do Complexo da Maré, parece atender à realização da Copa 2014, bem como servirá de base para campanha eleitoral da presidência da República.
Coincidentemente ou não, a ocupação ocorre na véspera da desincompatibilização do governador Sérgio Cabral para concorrer ao Senado Federal. O ano de 2014, também, é marcado pela tentativa de reeleição da presidente Dilma ao cargo de presidência da República. No aspecto político, este País, mais parece Haiti do que outrora fora a República Federativa do Brasil.
Há que os postulantes de mais altos cargos públicos da República tomem atitudes mais próativas para inserção da população menos favorecida ao contexto da sociedade brasileira. Não basta delegacias de latas espalhados pelos quatro cantos! Não basta discursos de inserção social, sem que leve os serviços públicos de qualidade à comunidade "pacificada".
Acorda Sérgio Cabral ! Acorda Dilma ! O povo está de olho em cada passo de vocês!
PS (31/03/2014):
Está havendo equívoco na interpretação deste texto. Eu não estou denunciando a inoportunidade da "ocupação" do Complexo da Maré. O que estou a chamar atenção é o esquecimento por parte do poder público deste e outros "enclaves" existentes, não só na cidade de Rio de Janeiro como também em outras regiões metropolitanas do Brasil a fora.
A existência destes "enclaves" nas periferias de grandes cidades e a completa ignorância das autoridades em prover de serviços públicos essenciais, nos fazem crer que há sim, um "outro país" ou um "outro mundo", que não está "incluído" dentro do "país de maravilhas" denominado Brasil. O País maravilha são alardeados intensamente pelos governantes de plantão, independente de cores partidárias.
O que denuncio, duramente, é que as "ocupações" dos complexos ou "enclaves" são feitas "somente" na área de segurança pública. São os tais Unidades Pacificadores, os UPPs na cidade de Rio de Janeiro, em forma improvisada, instaladas em unidades de containers, os "latões". Em outras regiões metropolitanas, os "latões" tem outras denominações.
No meu entender, as "ocupações" deveriam ser de forma "completa" promovendo verdadeira inserção social da camada de população que sempre foram relegados no segundo plano. Há diversos programas no âmbito municipal, estadual ou federal que deveriam ser instalados nestas "ocupações", tais como creches, unidades de pronto atendimento, construção de escolas de ensino fundamental de qualidade, bibliotecas, centros sociais, etc., etc., etc.
Também, os projetos de "mobilidade urbana" do PAC, do esgotamento sanitário, estações bases para celulares, agências de CEF e ou do Banco do Brasil, agências de correios, postos de atendimento dos diversos serviços deveriam ser instalados. Serviço de transporte coletivo integrado aos metropolitanos, teriam que fazer parte do plano de "ocupações". Uai, para que existem diversos programas que são amplamente anunciados pelo governo federal?
Se as "ocupações" se resume em instalação de UPPs, isto me cheira muito mal. Sobretudo, em véspera de eleições. Mostrar estas "ocupações" aos turistas estrangeiras, sem inclusão dos serviços públicos essenciais, é como mostrar as nossas mazelas. Isto é como expor as nossas feridas mal curadas aos estrangeiros. Como podemos nos orgulhar desta situação? Eu me envergonho de mostrar a tamanha mazela de um País que se diz "mil maravilhas".
Pronto! Era o que eu tinha que complementar, para não haver equívoco sobre a minha indignação e denúncia formulada no texto original (em preto).
PS (31/03/2014):
Está havendo equívoco na interpretação deste texto. Eu não estou denunciando a inoportunidade da "ocupação" do Complexo da Maré. O que estou a chamar atenção é o esquecimento por parte do poder público deste e outros "enclaves" existentes, não só na cidade de Rio de Janeiro como também em outras regiões metropolitanas do Brasil a fora.
A existência destes "enclaves" nas periferias de grandes cidades e a completa ignorância das autoridades em prover de serviços públicos essenciais, nos fazem crer que há sim, um "outro país" ou um "outro mundo", que não está "incluído" dentro do "país de maravilhas" denominado Brasil. O País maravilha são alardeados intensamente pelos governantes de plantão, independente de cores partidárias.
O que denuncio, duramente, é que as "ocupações" dos complexos ou "enclaves" são feitas "somente" na área de segurança pública. São os tais Unidades Pacificadores, os UPPs na cidade de Rio de Janeiro, em forma improvisada, instaladas em unidades de containers, os "latões". Em outras regiões metropolitanas, os "latões" tem outras denominações.
No meu entender, as "ocupações" deveriam ser de forma "completa" promovendo verdadeira inserção social da camada de população que sempre foram relegados no segundo plano. Há diversos programas no âmbito municipal, estadual ou federal que deveriam ser instalados nestas "ocupações", tais como creches, unidades de pronto atendimento, construção de escolas de ensino fundamental de qualidade, bibliotecas, centros sociais, etc., etc., etc.
Também, os projetos de "mobilidade urbana" do PAC, do esgotamento sanitário, estações bases para celulares, agências de CEF e ou do Banco do Brasil, agências de correios, postos de atendimento dos diversos serviços deveriam ser instalados. Serviço de transporte coletivo integrado aos metropolitanos, teriam que fazer parte do plano de "ocupações". Uai, para que existem diversos programas que são amplamente anunciados pelo governo federal?
Se as "ocupações" se resume em instalação de UPPs, isto me cheira muito mal. Sobretudo, em véspera de eleições. Mostrar estas "ocupações" aos turistas estrangeiras, sem inclusão dos serviços públicos essenciais, é como mostrar as nossas mazelas. Isto é como expor as nossas feridas mal curadas aos estrangeiros. Como podemos nos orgulhar desta situação? Eu me envergonho de mostrar a tamanha mazela de um País que se diz "mil maravilhas".
Pronto! Era o que eu tinha que complementar, para não haver equívoco sobre a minha indignação e denúncia formulada no texto original (em preto).
Ossami Sakamori
@SakaSakamori
2 comentários:
Parabéns pelo belo artigo. Isso que foi relatado é totalmente pertinente. Essas fantasiosas ocupações parecem mais a tomada de um território como se não pertencesse ao nosso país. São fatos que demonstram que as nossas autoridades não têm domínio dessas áreas. É uma vergonha o que estamos vendo acontecer diariamente no nosso país. E o pior: não podemos alimentar grandes esperanças. Se não houver uma profunda reforma política, com a simples troca de comando do Governo, não resolveremos o problema. Acesse o nosso blog: www.ideiasefatostucujus.blogspot.com.br
Sou do Rio de Janeiro e sei bem o que acontece pelas minhas quebradas. A ocupação da Favela da Maré, a maior do Rio, ao lado da Rocinha, faz parte de um projeto extremamente ambicioso. As UPPs contam com o apoio da grande mídia por diversos motivos. O capital, não diria humano, que as favelas podem render é muito, muito grande. Hoje, as favelas são tomadas por traficantes, milícias, seitas neopentescostais e o comércio, ilegal de todo o tipo. O governo quer tomar para si um pedaço que pode dar muito lucro, muito voto e repercussão internacional - sim, o Rio ainda é, sempre será, a maior vitrine do Brasil.
Pouca gente sabe, mas há até um incentivo da Prefeitura, através da Rio Filme, à produções cinematográficas que tenham o interesse em realizar o que chamamos de "favela movie", como já podemos constatar no filme Alemão, que eu vi e não gostei. As UPPs são um projeto de poder que visa, também, a reeleição do Pezão, que sofre com um alto índice de rejeição.
O principal motivo do fracasso das UPPs é a ausência de uma força policial qualificada, preparada. A polícia militar não foi criada para agir com inteligência, na verdade, foi feita para o confronto, o embate. Daí a contradição: como entregar um projeto de pacificação para uma polícia acostumada à ações truculentas? Não tem lógica. Por isso, vemos casos como o do Amarildo e da trabalhadora e mãe de família Claudia.
Não caio na conversa de que o governo vai investir em educação, saúde e cultura paras favelas. O que vai acontecer é que o governo e a prefeitura obrigarão os moradores a pagarem impostos sem a devida contrapartida. Pior: os projetos culturais serão entregues a Fundações picaretas, como as das Organizações Globo, que, de povo, entende muito pouco.
Este projeto de poder tem curtíssimo prazo, visa, também, a Copa e as Olimpíadas. O governo quer, ainda por cima, transformar as favelas numa espécie de safári para turistas curtirem - os moradores, claro, não aceitam esta ideia. Há o interesse do governo tutelar uma uma portante parcela da população carioca. E toda tutela é repressora. O Haiti é aqui? Antes sim, agora, não. Eu diria que a Itália fascista é aqui. Um país que acredita na repressão, militar e policial, como uma maneira de trazer "paz" para a sociedade não pode ser considerada democrática. E uma grande parcela de uma sociedade que pede a volta dos militares, acredita na tortura como forma de punição e prega o racismo, o preconceito, dentro e fora das redes sociais também não pode ser chamada de democrática.
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